Diversão e Arte

Nasi fala sobre a separação e a volta à ativa do Ira! após jejum de 7 anos

Retorno aos palcos foi com uma apresentação arrebatadora na Virada Cultural, em São Paulo

postado em 25/05/2014 08:12

7 anos: tempo que durou o hiato do Ira

Em 2007, o Brasil acompanhou o fim conturbado de uma das bandas mais emblemáticas do rock nacional, que envolveu triângulos amorosos, brigas entre irmãos, processos judiciais, drogas e traições. Sete anos depois, o Ira! volta à ativa em show arrebatador na Virada Cultural de São Paulo, no último dia 17, e tem data marcada para tocar em Brasília, 6 de junho. Em entrevista ao Correio, o vocalista Nasi fala sobre o período de separação, a reconciliação com Edgard Scandurra, guitarrista e fundador da banda, e o irmão e empresário Airton Valadão Júnior e a reformulação do grupo.

Há dois anos você tinha dito que não pretendia retomar as atividades com o Ira. Como aconteceu essa volta e por quê?
Realmente, tanto para mim quanto para o Edgard, do jeito que as coisas estavam, não era para ter volta. Mas, em 2012, começou um movimento que foi apaziguando o ânimo de todos. Eu me reconciliei com meu irmão, as ações mútuas foram encerradas e, em abril do ano passado, eu liguei para o Edgard querendo colocar um ponto final nessa animosidade. Aí em outubro ele me convidou para um show beneficente que estava promovendo com Arnaldo Antunes e Paulo Ricardo. Esse show realmente comoveu todos nós, pelo jeito que o público veio e pela própria emoção que a gente reencontrou no palco ao tocar junto. Foi nesse momento que a nossa relação se apaziguou e que vimos que a nossa parceria, o contato em cima do palco, era algo acima dos problemas que tivemos, então começamos a conversar sobre uma possível volta. Em fevereiro, nós sentamos e colocamos algumas ideias de como seria essa volta e tudo acabou combinando com a Virada Cultural em São Paulo.



Essa volta é um movimento mais nostálgico ou vocês pretendem lançar novos trabalhos?
Acho que o primeiro objetivo é que a gente mate a nossa saudade do público e vice-versa. Estamos apresentando um show panorâmico, com sucessos pontuais dos 26 anos de carreira do Ira, com músicas que consideramos importantes para a identidade da banda, e pelo menos uma canção de cada disco representada no repertório. Também tocamos uma faixa nova, ABCD, que é a primeira dessa fase. Provavelmente vamos trabalhar em algumas composições ao longo dessa turnê visando gravar um novo álbum, para este ano ou ano que vem.

Como está o clima dos ensaios?
Eu e Edgard chegamos à conclusão de que o Ira! teria que voltar melhor do que era. Igual ou inferior não teria sentido para nós. Para isso, a gente buscou sangue novo, com músicos que estão atuando há anos com a gente nos nossos projetos solos. O clima dos ensaios foi o melhor possível, na medida em que os músicos novos ajudam a gente a revisitar canções antigas, e, às vezes, até a melhorar em alguns aspectos. A apresentação que fizemos na Virada Cultural também foi memorável. Quase 50 mil pessoas vieram para ver o Ira. Foi um dos melhores shows que fizemos em toda a nossa carreira, fruto tanto da nossa execução, da nossa performance, quanto da energia e da vibração do público.

Você considera o Ira! uma banda dos anos 1980?
Eu acredito que não. Um dos auges da nossa carreira foi em 2004 com o Acústico MTV. Nós ganhamos dois prêmios da APCA em 1997 e em 1999. Acho que esses rótulos são meio preguiçosos, né? Aqui no Brasil nós costumamos falar de uma volta do rock dos anos 1980, mas quando tem um show dos Rolling Stones, ninguém fala que é um show de rock dos anos 1970. Quando eu era moleque, eu curtia o som de uns roqueiros mais velhos. O público procura ouvir o que seja verdadeiro, tenha o artista 30, 50 ou 70 anos.

Hoje o que você vê para o futuro do Ira? O que você sonha que aconteça com a banda?
Não é só um sonho. O que nós estamos determinados a fazer é trabalhar sem stress, com compreensão, com harmonia, com os objetivos afinados. Queremos que os shows do Ira! sejam para nós um motivo de felicidade, de uma ansiedade boa, e que a gente consiga algo que a gente já teve na carreira, que é trabalhar com paz e tesão.

Na Virada vocês levantaram algumas questões, como da Cracolândia e do Parque Augusta. Você acha que isso é papel dos artistas? Quais são as questões que interessam a vocês?
A gente tocou em alguns pontos lá porque estávamos na frente de 50 mil pessoas que habitam a cidade de São Paulo, com todos os níveis da sociedade civil presentes. Era uma oportunidade de opinar sobre algumas coisas que estão acontecendo na cidade. O Dani está muito envolvido no movimento de tombamento e de preservação do Parque Augusta, que se encontra numa espécie de impasse. Eu também tive uma experiência parecida no Morro do Querosene, bairro em que moro em São Paulo, que há dez anos vinha lutando pela preservação de uma área que nós conseguimos tombar há dois anos. A gente vive uma explosão mobiliária muito grande, no Brasil inteiro, mas principalmente em São Paulo. Então precisamos ter muito cuidado, principalmente pela natureza de uma cidade como São Paulo que já é primariamente carente disso. Aproveitei aquele momento para falar rapidamente sobre essas questões, e também deixar o Dani se manifestar, porque ele está realmente muito ativo nisso. Mas acho que não é para ficar levando isso em todos os shows. Cada show tem uma história, sabe? Esse tinha esse aspecto porque era uma Virada Cultural. Um show que é transmitido na internet para o mundo inteiro, com cobertura de todos os órgãos da imprensa, e tínhamos na nossa frente 50 mil pessoas, entre elas algumas autoridades. Acho que não custa nada procurar informar as pessoas para que elas também possam se mobilizar, fazer parte disso, tomar consciência das coisas que estão acontecendo na cidade delas. Mas acho que essa questão de se manifestar tem que vir da consciência de cada um, de cada um dos integrantes do Ira, se eles acharem que têm que manifestar opinião por isso ou por aquilo, ou mesmo por um voto em branco. Até o momento eu não estou engajado em nenhuma campanha. Se alguma se mostrar muito consistente para mim, eu posso tomar algum lado. Mas por enquanto eu sou só ouvidos. Por enquanto eu estou ouvindo muito.

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