Ele é guitarrista do Angra, portanto sempre associado ao heavy metal. Mas essa não é bem a realidade de Kiko Loureiro, um virtuose, considerado um dos grandes nomes no instrumento no mundo. Ele, claro, tem uma veia ; muito forte, diga-se de passage ; bastante rockeira. Mas não deixa de ouvir e gostar de outros estilos, principalmente do jazz. Sem falar no instrumental próximo à MPB.
E isso fica bem claro em seu primeiro DVD, The white balance, gravado ano passado no auditório do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e recém-lançado no Brasil. Com o Angra são mais de 20 anos de parceria, além de uma já consolidada carreira solo, com quatro discos gravados. ;Se você pensar muito, não faz. Já tinha uma enorme vontade de fazer um registro ao vivo, que casou com o convite que recebi do auditório, que é legal, de prestígio. Fiquei muito contente. E tinha que rolar um show especial, o local merece. Então era a hora;, avalia.
O DVD é apresentado em três momentos, bastante distintos, mostrando as diferentes vertentes do músico. No primeiro, um set mais puxado para os fãs do Angra, com muito rock. No segundo começa sozinho, ao violão, e finaliza ao lado de seu companheiro de banda Rafael Bittencourt no momento acústico. E para fechar, com outros músicos, mostra seu Brazilian Jazz, principalmente com canções do disco Universo inverso (2006).
;Descobri, no show, que o estado de espírito de cada um dos momentos é bem diferente. O som, o equipamento, a postura com os outros músicos, é tudo muito distinto. É cada um na sua. Cada músico tocava com uma banda diferente, de outras escolas. Do lado samba, do lado do rock;, frisa, deixando claras as diferenças de clima entre as partes do programa. ;O Brazillian Jazz é uma conversa de botequim, é no olho de cada músico. É livre. Já o rock é um discurso pronto. Você tem o texto, arruma, lê, pratica e toca. Está ensaiado.;
Já o momento com Rafael é um caso à parte. Os dois tocam Late redemption, do Angra. ;Tocamos juntos desde 17 anos. Ele é muito representativo na minha carreira. Tenho ótimas lembranças da gente moleque, de discussões que sempre terminam em abraço. Na alegria e na tristeza. Fizemos muita coisa juntos. E, nessa canção, fiz a música e ele a letra;, conta.
Para produzir os três sets, seria necessário reunir vários músicos para ensaios e horas de trabalho. ;Fiz dois shows antes, com a parte rock. Mas os caras do Brasillian Jazz não querem ensaiar muito. Tem que ter o ensaio para todo mundo entender a música e, pronto, vai para o palco. É meio um improviso. É stand up comedy;, compara com humor. E esta variação certamente proporciona um aumento no leque de fãs do artista.
Bem tocado
;Tenho um público conhecido, que é o cara que gosta de guitarra, não necessariamente do rock. É uma pessoa que gosta do instrumento bem tocado. Do cara jazzista ao extremo consigo o respeito. Mas me agradecem porque, no meu show, o camisa preta, fã do Angra, vai para me ver tocar e vê outro tipo de música. Abre a cabeça do cara. Acima de tudo, sou um artista e o artista está aí para fazer o que dá na telha. Se quando decidi sair da faculdade de biologia para fazer música já tomei uma decisão dessas, imagina agora. Vou tocar o que gosto. Como não abandono o rock pesado, não virei a casaca. Falo com respeito que ouço, por exemplo, Metallica e Cartola.;
Mas a principal influência de Kiko Loureiro, aliás, como a maioria dos guitarristas, não poderia ser diferente: heavy metal. ;Era o Led Zeppelin. Pirei no (Jimmy) Page e na banda. Nos anos 80, fui descobrindo Van Halen, depois Mike Stern, George Benson, além dos brasileiros no violão, que são mais sofisticados. Ouvir Scorpions, Iron Maiden era nota para todo lado, ou muito agudo ou muito grave, e é legal. Mas a sensibilidade do brasileiro na música é outra. É mais complicado, mais elaborado. Tem mais harmonia. Tem que fazer aula. Pirava nessa coisa de fazer aula, estudar. A música brasileira é a música que mais une a sofisticação com o popular;, elogia.
Confira vídeo de Gray stone gateway, do novo DVD:
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