José Carlos Vieira
postado em 08/07/2014 08:05
Carlos Drummond de Andrade não frequentava a geral nem as numeradas do Maracanã, sequer gostava das rodas de bate-papos futebolísticos durante um cafezinho nos bares do centro do Rio de Janeiro. Não era um Nelson Rodrigues, que jogava nas 11. Mas, de quatro em quatro anos, o poeta mineiro se transformava num vivaz torcedor de Copa do Mundo. Escreveu textos sobre nove Mundiais, de 1954, na Suíça, até 1986, no México ; um ano antes de morrer. Alegrias e tristezas registradas por sua velha máquina de escrever Remington. ;Confesso que o futebol me aturde porque não sei chegar até o seu mistério;, revela o poeta de Itabira em uma das crônicas do livro Quando é dia de futebol, relançado no início do ano pela Cia. das Letras. E era a marca metafísica do pênalti que mais seduzia o poeta.
Mesmo sem muita intimidade com a dona bola, Drummond usava espaços nos jornais Correio da Manhã e Jornal do Brasil para reverenciar o universo dentro das quatro linhas. Os textos incluídos no livro foram selecionados por Luis Mauricio e Pedro Augusto Graña Drummond, netos do poeta. Era diante da máquina datilográfica que o poeta e cronista dava seus passes de calcanhar, folhas-secas e matadas no peito de dar inveja a Pelé e a Tostão.
A pancada do colombiano Zúñiga em Neymar vem de ecos distantes, como relata o poeta em crônica de 1959. ;O sofrimento esportivo se agrava com os equívocos de linguagem e os golpes publicitários, assumindo formas políticas e belicosas que estariam nos próprios e inocentes torcedores, se eles se detivessem a examiná-las. (;) Não direi que a traulitada de Davoine (jogador uruguaio) em Almir (logo em Almir, aquele garotinho tão bem-comportado) representasse para nós um ataque da República Oriental em peso à nossa incauta mocidade. (;) Conscientemente, sabemos que foi apenas um lance de esporte praticado sem esportividade (;);. Para constar, o Brasil ganhou do Uruguai por 3 x 1.
A matéria completa está disponível , para assinantes. Para assinar, clique .