Fellipe Torres
postado em 14/07/2014 08:47
Aos 5 anos de idade, Josias Teófilo disse à família ter passado uma noite tocando piano e conversando com o avô paterno, naquela época morto há dois anos. Como ;criança não mente;, a história foi contada e recontada pelos parentes por uma década, até o menino resolver falar a verdade. Já adolescente, confessou: era tudo invenção. À primeira vista, o episódio parece banal, mas demonstra como a imagem do falecido membro da família povoou desde cedo o imaginário de Josias. Não era para menos: Pedro Teófilo foi cineasta, inventor, aviador, arquiteto autodidata e repórter cinematográfico. Nos últimos sete anos, foi também objeto de investigação do neto, que agora lança o romance ensaístico O cinema sonhado.
Pernambucano radicado em Brasília, Josias Teófilo briga contra o esquecimento do ;voinho; Pedro em um texto localizado entre a biografia e a autobiografia. Ao resgatar a história da própria família, ele remonta a trajetória dos ancestrais no Recife, desde quando os bisavós foram morar no bairro da Boa Vista, na década de 1930. Naquela época, e em volta da Praça Maciel Pinheiro, morou Clarice Lispector. ;Os dois podem ter se cruzado, meu avô uma criança, Clarice uma jovenzinha indo ao Ginásio Pernambucano.;
De um jovem aprendiz de aviador, interessado em magia e ocultismo, Pedro Teófilo se transformou em um adulto dedicado à sétima arte. Em 1955, idealizou e construiu o Cinema Olympia, que funcionou por quase duas décadas. Nesse meio tempo, roteirizou e dirigiu os longas inacabados A virgem dos lábios de mel e O gigante que desperta.
As engenhocas foram outra paixão de Pedro, embora tenha conseguido pouco êxito. Em 1976, durante um ano, funcionou no Recife uma lanchonete automatizada, criada pelo pernambucano. Desde o pedido até a entrega ao cliente, tudo era feito mecanicamente. Pedro morreu em 1989 vítima de câncer.