Agência France-Presse
postado em 17/07/2014 14:53
Numa exposição de fotos em grande formato em preto e branco chamada ;Álbuns; (2014), Muniz cria um mosaico com recortes de fotografias para representar imagens da vida cotidiana, como se fossem pixeis de uma foto digital.
"A revolução digital mudou nossa relação com a fotografia", diz à AFP o paulista de 53 anos, para quem "tudo o que faltava antes, agora é super abundante".
"Nasci em uma favela, numa família pobre. Nunca tivemos uma câmera fotográfica em casa", lembra o artista. "Minha tia, que morava em Miami, vinha nos visitar uma vez ao ano e me fotografava". O resultado só era visto um ano depois, quando ela voltava ao Brasil.
"Tenho umas nove imagens de quando eu era pequeno. Elas estão guardadas com muito carinho". Desde que chegou a Nova York, aos 21 anos, Muniz começou a comprar fotos de família em mercados de pulga. "Gostava de imaginar a vida dessas pessoas", conta. A partir de então, o artista brasileiro não parou mais de colecionar fotos que imortalizavam momentos importantes da vida cotidiana: aniversários, comunhões, casamentos, férias.
Após a revolução digital, "vi uma mudança radical em como as pessoas constroem sua memória familiar. Antes, as fotos de família passavam de geração em geração". "A disponibilidade das fotos de família, através de leilões, internet, mercados de pulga, aumentaram de maneira exponencial", avalia Vik Muniz, que têm cerca de 250.000 fotos.
Psicologia, percepção e mídia
O artista, conhecido por suas séries de retratos com chocolate e com dejetos, coleciona também postais. Recortados e colados, os cartões formam uma nova paisagem. ;A praia;, ;Avião de linha; ou uma obra sobre uma Paris de sonhos podem ser descobertas no festival de fotografia de Arles.
Filho de um camareiro e de uma telefonista, Muniz ganhou uma bolsa aos 14 anos para estudar desenho acadêmico e passou dois anos na faculdade de psicologia, em São Paulo. "Pensei que eu poderia unir meu interesse pela psicologia e pelo desenho trabalhando com publicidade". Seu primeiro trabalho consistiu em melhorar a visibilidade de cartazes nas ruas com a análise da distância de percepção.
Aos 19 anos, quando estava a caminho de receber um prêmio concedido por uma agência de publicidade, Vik Muniz separa uma briga, mas a vítima o atira na perna, ao confundi-lo com o agressor. "Para compensar o acidente, o cara pagou todos os custos do hospital e me ajudou a pagar minha viagem em 1982 aos Estados Unidos", onde viveu no fervilhante bairro artístico de East Village.
"Minha geração estava restituindo com uma produção nova tudo o que havia lido, visto na televisão, aprendido", avalia Muniz, em referência aos artistas Cindy Sherman e Jeff Koons. "Pude fazer um tipo de arte que englobava todos os meus interesses em psicologia, percepção e meios de comunicação", destaca este brasileiro reconhecido internacionalmente, que se divide atualmente entre o Rio de Janeiro e Nova York.