postado em 26/07/2014 15:01
Paulínia (SP) ; A volta do Paulínia Film Festival, renovado e ampliado com a inclusão de uma mostra de filmes internacionais foi diretamente atingida por uma frente fria que derrubou os marcadores dos termômetros e obrigou plateia e os convidados a tirarem os casacos, cachecols e luvas do armário. Mesmo assim, a plateia da cidade do interior de São Paulo compareceu às sessões da noite de sexta-feira (25/7) no Theatro Municipal Paulo Gracindo iluminada pela luz de smatphones antes das sessões e também no momento de apresentações dos filmes feitas pelas equipes de fitas de curta e longa duração.
Em parte, o comportamento é culpa das novas tecnologias e, em outro parte, a presença dos celulares é efeito da demora das apresentações dos particpantes no palco. O chefe de cerimônias, o crítico de cinema televisivo, Rubens Ewald Filho preparou uma sabatina feita aos realizadores no palco com uma série de perguntas didáticas sobre as produções. Logo que a projeção começou, porém, a distração foi substituída pela concentração total com que se acompanhavam as narrativas apresentadas na tela.
A competitiva de curtas nacionais de sexta-feira apresentou a nova produção do cineasta Alan Ribeiro. O filme registra a comemoração de 53 anos de existência de um grupo de perfomistas do Clube OK, no Rio de Janeiro. Assim como na experiência anterior, o longa híbrido Esse amor que nos consome, Ribeiro desenvolve uma orgânica mistura de gêneros entre documentário e ficção utilizando os artistas performáticos de um antigo clube de drag queens.
A projeção vespertina da competitiva dos curtas-metragens apresentou para um público menor a leitura imatura das jornadas de protestos de 2013 no paulista, 190. O projeto de conclusão de curso dirigido por Germano Pereira separa dois irmãos em dois lados das questões dos protestos que tomaram conta do país no ano passado. Um é black bloc e levou a óbito um policial usando um coquetel molotov. Enquanto a irmã, uma nacionalista, sofre a incerteza de entregar ou não para as forças policiais o assassino, cometendo uma espécie de traição fraterna.
Os atritos sociais do Brasil contemporâneo foram melhor analisados no primeiro longa-metragem de Fellipe Barbosa, Casa grande. A película acompanha a trajetória de um garoto da zona sul do Rio de Janeiro, Jean (Thales Cavalcanti) durante um período de falência do orçamento familiar. O filme tece uma crítica direta a uma espécie de desconexão da classe média tradicional aos novos arranjos sociais brasileiros em especial à ascenção econômica da chamada classe C.
As cotas raciais em universidades e concursos públicos fazem parte das discussões à mesa da família de quatro membros ;chefiada; pelo patriarca Hugo (Marcelo Novaes) e pela esposa Sônia (Suzana Pires) . A ironia produzida em tom quase caricato, esquadrinha velhos valores burgueses.
A urbanidade do Rio de Janeiro foi deixada de lado no segundo longa-metragem da noite, Sangue azul. O novo longa do pernambucano Lírio Ferreira (Baile perfumado e o Homem que engarrafava nuvens) insere uma trupe de circo em Fernando de Noronha, ilha do litoral de Pernambuco (a meio caminho entre o Brasil e a África). Um dos membros do grupo mambembe, o homem-bala feito pelo ator Daniel Oliveira é originário da ilha e está voltando para casa, para reencontrar a mãe (Sandra Corveloni) e irmã (Caroline Abras) e as paisagens de infância.
A fita reúne participações de Paulo César Pereio e do cineasta Ruy Guerra atuando como um velho pescador da ilha e uma espécie de guardião de uma lenda local. A última noite de mostra competitiva no sábado (26/7) também exibirá novos filmes do cinema de Pernambuco, A história da eternidade, de Camilo Cavalcante seguido da exibição de Infância, novo longa do veterano cineasta, Domingos de Oliveira. Os vencedores desta edição serão revelados no domingo à noite.