Diversão e Arte

Etgar Keret fala sobre o processo de criação dos seus contos dramáticos

O israelense é uma das atrações da Flip

Nahima Maciel
postado em 02/08/2014 11:55
O clima das histórias do israelense Etgar Keret não é necessariamente leve. Há muito humor, uma dose generosa de surrealismo e uma grande quantidade de personagens bizarros. Um homem que todo dia é confundido com outro, um subterrâneo povoado pelas mentiras que as pessoas contam, um barbudo com arma na mão que exige do escritor apenas uma história, o desconhecido que pede hambúrguer sem queijo na rede de fast-food e desencadeia um cataclismo, a coleção de Keret é vasta. No entanto, há tensão. O tempo inteiro. E algo triste paira no ar.



Keret, que fala hoje na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), vem de um país em constante guerra e talvez por isso o surrealismo de seus contos seja tão significativo. ;Quando escrevo, não me comprometo com as leis da física ou da química, mas com o que há de subjetivo na experiência humana então, se eu beijar uma certa garota, eu sinto como se estivesse voando pelos ares. Meu protagonista vai começar a levitar quando ele beijar o amor de sua vida;, explica o autor, que lança seu primeiro livro no Brasil. De repente, uma batida na porta, reunião de 37 contos nos quais o fator surreal confere às narrativas um viés kafkiano, é também uma forma de olhar para o mundo.

Em entrevista ao Correio, Keret, 46 anos e nascido em Tel Aviv, conta como a própria experiência pauta sua escrita. ;Sou filho de sobreviventes do Holocausto;, conta. Quando era pequeno, a mãe costumava contar como era o mundo antes do nazismo. Em todas as falas maternas, Keret reconhecia um mundo normal, semelhante ao que o cerca hoje. No entanto, quando o relato da mãe chegou ao episódio em que Hitler invadiu a Polônia, uma luz vermelha acendeu na cabeça do menino. ;Entendi que a realidade à minha volta poderia mudar também, o que me fez imaginar quase obsessivamente o que nosso mundo cotidiano poderia se tornar. Esse é um ponto de vista que tenho desde a infância e é daí que vem a tensão entre o mundano e o extremo nas minhas histórias;, avalia.

Keret acredita que a ansiedade e o medo são dois ingredientes poderosos para gerar suas histórias e o fato de viver em uma região de conflito impõe esses sentimentos diariamente. ;O Oriente Médio está cheio de conflitos, e conflitos podem ser ruins para a vida, mas são essenciais para criar um conto;, explica.

Um dos nomes mais populares da literatura contemporânea israelense, elogiado por Salman Rushdie como um autor brilhante e por Jonathan Safran Froer como sombrio e tocante, Keret é também um artista múltiplo. O autor escreveu roteiros para cinco séries de televisão e dirigiu três filmes (ganhou a Câmera de Ouro em Cannes por Jellyfish, em 2007).

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