Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Cineasta fala dos projetos, do jeitinho brasileiro e da intimidade com DF

O carioca Murilo Salles é diretor de "Aprendi a jogar com você" e "Os fins e os meios"



Um segundo projeto cinematográfico do realizador carioca de 63 anos também se passa no Distrito Federal. A ficção Os fins e os meios, que deverá ser lançada ainda este ano, apresentará o lado oficial de Brasília, o lado da sede política do país. Em ambos, o carioca Salles deixa escapar a estreita relação com Brasília. Presente nas telas até quando o filme não se passa em Brasília.

Sobre o que falam o seus filmes?

Todos falam de Brasil. Em 2003, inventamos um projeto ainda mais explícito chamado És tu Brasil e queríamos descobrir se existia o jeitinho brasileiro. Não gosto desse termo porque não sei se procede somente no Brasil. Acho que as pessoas se viram no mundo todo. Então, tentamos encontrar sintomas de brasilidade. Acabei me apaixonando pelo tema da viração (isto é, quando alguém se vira para realizar um projeto) e passei a me aprofundar. O brasileiro perde o emprego e vai mexer em outro negócio. Ele se vira. A economia informal tem um poder avassalador no país. O brasileiro precisa fazer muita traquitana. Isso é o Brasil real. Quer dizer, é isso que eu chamo de Brasil real.

E como você encontrou o DJ Duda, artista do Distrito Federal?

Pesquisando sobre ;viração;. Onde ela aparece mesmo é junto ao pessoal da periferia da cultura. Não estou usando a palavra periférico como algo fora do eixo Rio-São Paulo. Mas de artistas das periferias onde seria mais visual e contundente o rito da ;viração;. Chamei Leonardo Bittencourt (cineasta) para participar do projeto fazendo pesquisas no Brasil. Ele encontrou o DJ Duda. Eu nunca estive no set em Samambaia. Eu montava o material no Rio de Janeiro e algumas vezes tive de pedir para o Léo voltar e gravar mais. Foi assim até o fim do filme.

É verdade que você não conheceu o DJ Duda pessoalmente até o lançamento do filme?

Conheci o Duda porque ele foi ao Rio de Janeiro e me ligou para tomarmos um chope. A verdade é que eu conheço tudo sobre ele, passei dois anos assistindo o cara. Ele é que não me conhecia, não sabia nada de mim. O que me move nesse tipo de filme é descobrir o personagem. Toda vez que percebia um plano do filme representando um desejo só meu, eu tirava fora. Tem de ter a ver com a vida do cara, com o desejo do cara. Meu compromisso não é estético, estou dentro da família, dentro daquela casa, faz parte da grandeza do filme a precariedade dele. Acho muito estranho esses documentários chiquérrimos (bem fotografados, bem produzidos) que tenho assistido no Brasil.

Então, é uma nova forma de cinema documental, feito à distância?

Não é nova não. O Dziga Vertov (1896-1954) fez seus documentários assim. Mas acho que o cinema precisa ser mexido um pouco. O cinema contemporâneo sem o talento autoral parece uma fórmula pronta. Estava assistindo a um filme nestes dias e a fórmula era tão clara que consegui advinhar até as linhas de diálogo antes dos atores pronunciarem as palavras. O cinema está muito previsível. Nós esgotamos as experiências cinematográficas, exceto no cinema feito em computador. Esse é o único tipo de cinema que a gente ainda não sabe no que vai dar.

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