postado em 07/08/2014 08:29
Vladímir Sorókin pode ser considerado um dos nomes mais importantes ; e radicais ; da literatura russa contemporânea. Ele integra um grupo de escritores da chamada ;nova literatura russa;, da geração do pós-modernismo, expressão que ainda gera a repulsa de muitos críticos. A relação do fazer literário e artístico com o posicionamento político, ainda durante a União Soviética, era desafiante para o jovem escritor, desenhista e ilustrador. Trabalhava entre artistas plásticos e escritores do mundo moscovita underground, na década de 1980. Os textos de Sorókin foram banidos durante o regime soviético e somente em 1922 foi publicada a primeira coletânea de contos na Rússia. Atualmente, os livros de Sorókin são traduzidos para mais de 20 idiomas. A última obra, Dostoiévski-trip, é uma peça de um ato que se lê como romance ou novela curta. Trata-se de uma boa introdução ao universo do escritor e dramaturgo.
Ele esteve no Brasil para participar da Festa Literária Internacional de Paraty e conversou com o Correio sobre os caminhos que estão sendo trilhados para a imprevisível Rússia, sobre a imagem enfraquecida do país por causa das aventura políticas do presidente Vladimir Putin. ;Os Putins passarão. Os livros, não!”, disse o autor durante participação em uma das mesas da Flip. O fazer literário em um país marcado por situações limítrofes, não pode ser em linguagem realista, segundo Sorókin. Por isso, o autor assume como método a fragmentação, o sincretismo das formas, a metalinguagem e a ironia da literatura fantástica.
Confira trecho da entrevista com o escritor
O que caracteriza a nova literatura russa?
A gente pode dizer que ela começou a aparecer nos últimos 20 anos. Depois do fim da União Soviética, já se pode falar pelo menos de duas gerações de escritores. Faz pouco tempo que apareceram novos realistas jovens. Eles têm saudade do império soviético, no qual eles não viveram. Mas, paradoxalmente, eles falam sobre como foi bom aquele tempo. Eu diria que o principal fenômeno do surgimento dessa literatura é o pós-modernismo.
Por que esse conceito de pós-modernismo é tão controverso?
Muitas gerações de escritores cresceram na época da União Soviética, cultivaram a abordagem em relação à literatura clássica russa. Trata-se de uma catedral onde se pode, simplesmente, rezar para os grandes escritores, Tolstói e Dostoiévski. O pós-modernismo aproximou-se dos clássicos e este é o meu método particular, mas, para mim, a literatura do século 19 não é uma catedral. É uma oficina que tem diversos bons instrumentos que foram usados pelos nossos grandes escritores. É preciso não só aprender a usar esses instrumentos, mas fazer alguma coisa nova. Essa relação provocou uma insatisfação sobre os escritores conservadores.
No Brasil, o mais recente romance russo foi O Mestre Margarida, de Mikhail Bulgákov, escrito depois da Segunda Guerra. Eu queria que você comentasse um pouco, já que o pós -modernismo faz parte da sua literatura. Você se preocupa em quebrar esses grandes cânones?
Literatura deve ser contemporânea no melhor sentido da palavra. Tolstói foi muito atual, contemporâneo no tempo dele, assim como Dostoiévski; Claro que é preciso quebrar alguma coisa e, no lugar disso, construir algo novo. Caso contrário, você vai virar um escritor rotineiro. Romper é fundamental.
Romper padrões tem a ver com o formato do seu novo livro. Você traz personagens que vivem em situações limites. Viver no limite é uma característica russa?
Quando Henry Miller leu o romance do Dostoiévski Os Demônios ele escreveu em seu diário: ;Me pareceu que a terra tremia sob minhas pernas;. Sobre que limites pode-se falar? Ao contrário. Os personagens do Dostoiévski, por exemplo, sofrem pelo fato de não poderem limitar-se. Mas se estamos falando em limite no sentido de extremo; Bom, esse é o mundo russo. Essa é a vida russa.
Você pode adiantar algo sobre seu novo romance?
Ele se chama Telúria. Esse romance é sobre a descoberta das propriedades do metal telúrio ; extraído do Colorado, nos EUA, e muito raro em forma pura. Preparam pregos com esse metal e enfiam eles em um determinado lugar na cabeça da pessoa, tornando-a absolutamente feliz. É como se fosse uma super droga do futuro. Em princípio, esse romance é sobre a nova Europa e sobre uma nova Idade Média. Europa e Rússia se dividem em pequenos novos países. Telúria é um desses países, que encontra-se nas montanhas onde descobriram jazida desse metal. É um romance de literatura fantástica, sobre o medo contemporâneo, escrito de uma forma incomum. Consiste em 50 capítulos e cada capítulo é escrito em um estilo particular. Nunca tentei fazer um equilibrismo literário como esse. Isso é complicado. Por isso, eu não tenho podido escrever mais nada.
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