Diversão e Arte

Cineasta Domingos de Oliveira analisa novo filme autobiográfico

Em "Infância",os acontecimentos narrados na fita relembram o Rio de Janeiro de antigamente

postado em 11/08/2014 09:02
Domingo de Oliveira: O tempo passa para todo mundo, para o cineasta Domingos Oliveira, não. Cada dia mais moço, o cineasta de 77 anos lançou em 2008, Juventude ; um filme sobre reflexões de um grupo de senhores maduros ; e este ano rejuvenesce para lançar Infância, longa-metragem sobre a primeira etapa da vida. Na verdade, a primeira etapa da vida do próprio cineasta. O filme, selecionado para a competitiva de longas nacionais do 6; Paulínia Film Festival e confirmado no 42; Festival de Gramado, narra um dia na vida do menino que sonhou ser escritor e deixou sua caligrafia marcada no cinema brasileiro assinando os roteiros cinematográficos de Todas as mulheres do mundo (1966) ou Edu, coração de ouro (1967).

Na introdução de Infância, Oliveira avisa sobre a reinvenção de uma história real. ;Prefiro, ultimamente, pensar na vida como uma lenda. Uma lenda sobre uma gente que talvez um dia ; não se sabe como e nem onde ; tenha vivido ou não. Acho que a vida gosta de ser pensada assim, acho que ela recompensa quem pensa nela assim;, narra o cineasta com aquela dicção difícil de entender e que tanto caracteriza sua fala.



Os acontecimentos narrados na fita relembram o Rio de Janeiro de antigamente, aquele que os cariocas lamentam ter perdido pelo avanço do urbanismo desordenado e o stress da vida contemporânea. O anti-getulismo de Carlos Lacerda ou o jingle das ;Lojas Pernambucanas que vão aquecer o seu lar; são signos usados para remontar um dia na vida dos habitantes de um casarão em Botafogo, no Rio, anterior a explosão imobiliária de toda a Zona Sul da cidade.

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Infância, o filme

Deixou de ser a história de um garoto massacrado pela mãe possessiva e virou a história de todos eles, minha mãe, meu pai, minha avó e meus tios. A linguagem da peça para o filme mudou um pouco. Os diálogos são claros, sem fumaça, sem guardar os mistérios dos falecidos há muito. A cultura, a moral na;f deles todos estão lá. É uma crônica, uma fotografia de família.

Orçamento

Estou velho e não queria parar de fazer cinema. Simpatizo com o baixo orçamento. À essa altura, resolvi fazer longa sem dinheiro e está dando na mesma. Não acho que o orçamento deva ser o limite para um filme. Um filme é o que ele significa.

Filme útil

Deveríamos banir a expressão ;cinema de arte;. É aristocrática, é tola. Deveríamos usar a expressão ;filme útil; designando o filme que nos ajuda a viver. Quando vou ver um filme ou uma peça de teatro espero ganhar armamento para enfrentar a vida. Sem isso, não é arte.

Burguesia

Infância é também sobre a moral absurda da classe média burguesa de onde viemos todos nós. Dona Mocinha (Fernanda Montenegro) é muito engraçada. Inventa regras alienígenas. Regras criadas pela necessidade de se ter regras. ;Mãe não mente jamais;, ela diz. Mas acredita que a mentira é algo obrigatório na educação das crianças.

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