Diversão e Arte

Ator Flávio Migliaccio recebe Troféu Oscarito durante Festival de Gramado

"Ator nada mais faz, quando encena, do que a obrigação dele. Não deve ser tão endeusado", disse ele ao receber a homenagem

Ricardo Daehn - Enviado especial
postado em 12/08/2014 19:34
Gramado - Num primeiro momento, ao ser chamado para a homenagem com o Troféu Oscarito, o ator Flávio Migliaccio, prestes a completar 80 anos, demorou a acreditar na distinção e achou inclusive que não a merecesse. "Ator nada mais faz, quando encena, do que a obrigação dele. Não deve ser tão endeusado", explicou, já em Gramado, para receber o prêmio, em cerimônia marcada para as 21h30, no 42; Festival de Cinema da cidade. Mesmo assim, o intérprete sempre lembrado por personagens como Tio Maneco ou em produções fundamentais para a história do cinema brasileiro, como O grande momento (1958) e Cinco vezes favela (1962), se disse emocionado, "e não é conversa de ator deslumbrado com a fama; ator é trabalhador como qualquer outro".

"Gosto de fazer as pessoas rirem: o ser humano procura a felicidade. Num Brasil tão estraçalhado, responder pelo alívio do sofrimento é uma dádiva. Digo isso, não por questões políticas. Acredito, sim, que a sociedade esteja mal organizada. Quando o homem luta pelo dinheiro, ele acaba com a espécie humana. Se eu sou legal, vou ter ações boas, independente de ser de esquerda ou de direita. Buda pregava: não interessa em que se acredite; o resultado vem de ações, do que a gente sente e do que somos".

Entre os temas abordados pelo ator, antes de entrar no Palácio dos Festivais, esteve o descontentamento com a realidade infantil para os brasileiros. "A criança é o ser humano mais próximo da natureza, já que a sociedade ainda não a tocou. É o ser mais puro, e, na verdade, sinto muita pena das crianças nos dias de hoje, acho que é das que mais sofre. Passa por absurdos como de ser estimulada a praticar, nos Estados Unidos, MMA, a partir dos cinco anos! A nossa realidade é muito violenta", comentou o eterno Tio Maneco.

Entre as celebrações da carreira, Migliaccio apontou para um projeto genuinamente nacional, alcançado pela incorporação no Teatro de Arena. "Procuramos encontrar a forma mais realista de o homem brasileiro estar representado. A partir disso, inventamos um jeito novo de representar, em 1959", sintetizou. Entre muita descontração, ele tirou o peso de gabar-se do prêmio, ao se assumir "patético", mas não deixar de acrescentar: "é por isso que vocês gostam tanto de mim".

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