Ricardo Daehn - Enviado especial
postado em 17/08/2014 10:47
Gramado (RS) - Até mesmo quando exibiu filmes de guerra, ao longo dos oito dias de projeção de competidores aos prêmios Kikito, o 42; Festival de Cinema de Gramado pregou o amor. E o resultado dos prêmios (concedidos na noite de ontem) ressalta o sentimento, nos mais variados planos: da fraternidade alastrada nos campos de batalha de personagens que vivem em meio à rajada de conflitos internos (do melhor filme, A estrada 47) ao crepuscular amor de um idoso, às vias da partida, em A despedida (premiado pela direção e atores), a carga amorosa foi das mais presentes."Com meu filme, acho que fica a mensagem da equidade entre todos, e, nele, buscamos um nível de entendimento que atinge a todos níveis. Vale como experiência infantil, infantojuvenil e adulta. Tratei de um conto de fadas que tem as portas abertas para a celebração do amor e da capacidade de ser feliz", ressaltou uma das figuras mais badaladas em Gramado: o premiado diretor Caio Ryuishi Yossimi. Ele pode ter vindo para explicar, mas também confundiu -- de origem oriental, contrariou suposições de tamanho, gigante em cima de sapato plataforma e tom platinado à la Madonna. Figurinos exuberantes, simpatia e expressões marcantes (talvez as mais marcantes, "ever") fizeram parte de seu brilho.
Dono da cena, no doloroso e delicado A despedida, o ator premiado com o Kikito Nelson Xavier, subiu ao palco, para referendar o amor por Via Negromonte (que se estende por 25 anos e que contabiliza uma distância de 30 anos). "Para compor o papel de Almirante, que usa até andador, entre outras dificuldades, só pensei naquilo que fosse físico. Não precisei pensar no sonho, na emoção e no interior", sublinhou, ao celebrar a relação com a esposa.
Até vencedores que não estiveram presentes, como foi o caso do cineasta de Infância Domingos Oliveira, defenderam seus amores, entre os quais os "filmes úteis" (no lugar do rótulo cinema de arte). "O cinema é um bisturi fino que alcança aonde nada mais consegue", deixou registrado Domingos, em carta lida no palco, na qual identificou as comédias caça-níqueis nacionais à venda "de bananas e batatas". Sempre afetuoso com o público, ele pediu: "Divirtam-se e não esqueçam de tomar um conhaque, em meu nome".
Alguns dos destaques
A luneta do tempo -- Originalidade, autenticidade e uma fotografia cintilante (descolada da rispidez crua proposta em Vidas secas) se alastram num ventilado poema cinematográfico no qual, coerente, o musical Alceu Valença assenta o esplendor de cineasta emergente.
O segredo dos diamantes e Os senhores da guerra -- Dois títulos que comungam do alargamento de trincheiras para o cinema brasileiro: no primeiro, o público-alvo é de pré-adolescentes (para um enredo de mistério) e, no segundo, uma rara peça de reencontro com a formação do Rio Grande do Sul, dotada de eficientes sequências de luta.
Sinfonia da necrópole -- Senhora dos riscos, Juliana Rojas tem a afirmação de diretora, num musical que, literalmente, sacode os mortos. Na fita (com divertidas canções escritas por Rojas e o parceiro Marco Dutra), um simpático coveiro (Eduardo Gomes) se enterra nas inseguranças do dia a dia de profissional das mortes. A aragem é promovida, no fértil terreno dos raros musicais brasileiros.
Longas nacionais
Melhor filme -- A estrada 47, de Vicente Ferraz
Melhor diretor -- Marcelo Galvão, por A despedida
Melhor filme (júri popular) -- O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton
Melhor ator -- Nelson Xavier (A despedida)
Melhor atriz -- Juliana Paes (A despedida)
Fernanda Montenegro (prêmio especial do júri, por Infância)
Os senhores da guerra (também especial do júri)
Outros prêmios -- Infância (roteiro, montagem e ator coadjuvante, para Paulo Betti); A despedida (fotografia); A luneta do tempo (direção de ate, e melhor trilha musical, composta por Alceu Valença); Os senhores da guerra (melhor atriz coadjuvante para Andrea Buzato) e A estrada 47 (Melhor desenho de som)
Longas-metragens latinos
El lugar del hijo (Melhor filme, roteiro, e melhor ator para Felipe Dieste)
Las analfabetas (melhor diretor para Moisés Sepúlveda; melhor atriz -- dividido entre Paulina García e Valentina Muhr, e melhor fotografia. Prêmio Dom Quixote)
Esclavo de Dios (de Joel Novoa), melhor filme, segundo o júri popular
Júri da crítica
La llamada, curta-metragem de Gustavo Vinagre; El crítico, de Hernán Guerschuny (vencedor na categoria longa latino) e Sinfonia da necrópole, de Juliana Rojas, melhor longa nacional
Curtas-metragens (somente nacionais)
Melhor filme (Se essa lua fosse minha, de Larissa Lewandowski)
Melhor diretor (Gustavo Vinagre, por La llamada)
Melhor filme, pelo júri popular (A pequena vendedora de fósforos, de Kyoko Yamashita, que levou também o Prêmio Canal Brasil)
Prêmio especial do júri (O clube, de Allan Ribeiro)
Carranca faturou prêmios de atuação, com Rafaela Souza (melhor atriz) e Guilherme Silva (melhor ator)
Outros prêmios (para curtas): Melhor desenho de som (História natural); Melhor trilha musical (Sem título #1: Dance of Leitfossil); Melhor fotografia (La llamada); Melhor roteiro e Melhor direção de arte (O coração do príncipe); Melhor montagem (Sem título #1: Dance of Leitfossil).