Severino Francisco
postado em 27/08/2014 08:10
O império da ciência inaugurou uma nova escalada da barbárie, seja porque aumentou o poder de destruição das armas, seja porque o domínio da tecnologia instala um vazio de valores. Esse contexto explosivo cria um terreno fértil para a proliferação da violência nas nos estádios de futebol, nas ruas, nas escolas e nas cidades transformadas em arenas de guerras. A barbárie da tecnociência é o tema do seminário Mutações: fontes passionais da violência, que chega a Brasília, a partir de sexta-feira, em versão compacta, na Embaixada da França (Avenida das Nações, lote 4, Quadra 801), com conferência de Franklin Leopoldo e Silva, sobre A negação do sujeito.
Existe uma tendência em analisar a violência a partir das causas objetivas, econômicas e sociais. Sem desprezar essas influências, o ciclo que integra a série mutações envereda por outra trilha de reflexão. Adauto Novaes, organizador da série mutações, desenha o novo cenário da barbárie, a partir das inquietações do poeta Paul Valéry. Logo após a eclosão da Primeira Guerra Mundial de 1914, inaugurando o domínio da técnica na destruição, ele escreveu: ;Temo que o espírito esteja se tornando uma coisa supérflua;. O trabalho do espírito é fundamental no controle da violência, observa, Adauto: ;A nova forma de violência limita, pois, o trabalho do espírito, o que quer dizer que as deliberações humanas acontecem a despeito da capacidade de reflexão e discernimento;, escreve Adauto na apresentação do seminário: ;Mais: o homem perde o controle das paixões violentas. A ciência e a técnica dominam não apenas nossa vida material, mas também as coisas do espírito;. Em entrevista ao Correio, Adauto Novaes fala sobre as razões, as consequências e as formas de resistência à barbárie na era da tecnociência.
A banalização
A gente está vivendo uma era sem mediações, sem aquilo que o poeta Paul Valéry chamou de coisas vagas. A barbárie é a era dos fatos. As coisas vagas são os ideais políticos, as criações artísticas, as invenções filosóficas. As pessoas são violentas porque não têm a mediação de nenhum valor. Isso é muito esquecido pelo pensamento sobre a violência.
Social e passional
Vejo que são as duas coisas, uma não exclui a outra. Claro que as causas sociais são muito importantes. Mas as motivações passionais são muito esquecidas no pensamento sobre a violência.
Força apaixonada
Alain, um filósofo francês pouco conhecido, se alistou voluntariamente na Primeira Guerra Mundial e escreveu Marte ou a guerra julgada. No livro, ele afirma que os homens são movidos unicamente pelas paixões que os transformam em inimigos uns dos outros. A violência é um gênero de força apaixonada que busca quebrar a resistência pelo terror. O ódio, o ressentimento, o medo, a inveja, enfim, as paixões tristes, que levam a violência. Mas de um certo tempo para cá, começou-se a explicar a violência apenas pelas causas objetivas: a economia, a política, a polícia. São, de fato, causas muito importantes, mas não explicam tudo. Alguns chegaram a dizer que os genocídios eram praticados sem ideias. O que estamos fazendo é o contrário. Estamos mostrando como as paixões se tornaram temas de extrema atualidade.
Fontes passionais da violência
Franklin Leopoldo e Silva ; A negação do sujeito 29/8
Fredéric Gros ; A ética da obediência 2/9
Newton Bignotto ; Terror e política 4/9
David Lapojade ; Fundar a violência: uma mitologia 24/9
José Miguel Wisnik ; Inimigo íntimo 25/9
Gilles Baittailon -- Tolerância e ascensão do narcotráfico 30/9
Local: Embaixada da França. Mais informações no .
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