Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Grafite de mulheres mostram a alma feminina em diversas nuances

Nina Pandolfo, Panmela Castro e Mag Magrela ganharam espaço em um meio em que predominam grafiteiros homens



A temática do feminino é um ponto em comum entre as três grafiteiras. Mag Magrela lembra que, quando começou a pintar, queria fugir do esteriótipo ;trabalho de menina;. ;Fazia personagens masculinos e infantis. Mas percebi o grande poder de pintar nas ruas e busquei mudar, desenhar mais, achar meu estilo. Hoje, o universo feminino existe no meu trabalho por ser meu reflexo, pela maturidade como ser humano, que tem dores, dúvidas, angústias. Tudo isso reverbera nas obras;, reflete Mag.

Todos os trabalhos que levam a assinatura de Panmela Castro buscam questionar a liberdade da mulher. ;Quando comecei, não tinha ciência da minha temática. Fazia autorretrato sempre ;boladona;, com a cara fechada. Não entendia essa característica. Com o tempo, meu trabalho mudou. A imagem já não era mais o autorretrato, eram mulheres de uma forma geral femininas, que transmitiam suas histórias. Tenho a necessidade de me expressar e entender o universo feminino;, avalia.

Leia na íntegra a entrevistas com as grafiteiras brasileiras.

Confira entrevista com Nina

Li em uma entrevista sua que decidiu viver de arte aos 24 anos. Mas quando começou a grafitar? O que a motivou a fazer arte através do grafite?

Bom, na verdade eu sempre pintei telas, desde muito nova eu dizia que seria "artista" mas não sabia direito o que realmente era ser. Amava pintar, desenhar, criar coisas tridimensionais, colar... enfim, fazer arte. Como amava tudo que se referia a pintura e buscava sempre novos suportes como casco de arvore, folhas secas, troncos, pedras e qualquer superfície que eu imaginava ser possível pintar, descobri o graffiti, Isto foi no inicio dos anos 90. Conforme fui crescendo, e as responsabilidades aparecendo, comecei a fazer trabalhos de arte paralelamente ao meu trabalho em escritório, cheguei a fazer exposição coletiva como "50 anos de bienal" e "Um minuto de silencio" durante esta época que trabalhava em escritório, e com 24 anos, tive o convite para expor fora do Brasil, foi então que decidi seguir a vida, única e exclusivamente na arte.

O universo feminino é tema recorrente no seu trabalho. É uma vertente que sempre existiu ou você sentiu necessidade de explorar essa temática?

Tenho 4 irmãs mais velhas, ou seja, nasci num lar praticamente feminino, toda esta influencia, com certeza atingiu tanto meu ser como meu trabalho. Desde pequena meus desenhos eram delicados, femininos e alegres, cheio de bichos e amor.

Já sofreu algum preconceito por ser uma mulher grafitando?

Já sim, mas acho que todas as mulheres sofrem em todas as áreas que alguns julgam ser para homens. Mas isto nunca me afetou. Quando se gosta do que faz, não existem palavras que me desmotivem.

É mais comum vermos mais homens grafitando do que mulheres. Você acredita que isso tem mudado?

Da época que comecei ate hoje já mudou muito. E acho que é natural isto mudar. Assim como hoje já vemos caminhoneiras, bombeiras, bandeirinhas....

O que o artista urbano precisa ter para sensibilizar quem passa em frente ao grafite?

Se ele é artista já o tem!

Seu trabalho é inspiração para muitas jovens. Qual foi o seu maior legado até agora? E o que pretende deixar para o grafite brasileiro?

Nunca pensei em ser inspiração ou referencia para outras pessoas, me sinto honrada por isto. Acho que fazer parte da historia da arte brasileira, seja ela na rua ou em galerias, é algo de grande valia pra mim. Fazer a diferença sempre.

Ultimamente, você tem se dedicado mais às telas e projetos culturais. É apenas uma fase ou amadurecimento do trabalho?

Talvez uma fase de amadurecimento. A vida nos surpreende, nunca consigo fazer planos para muito tempo. Vou vivendo conforme as coisas vão acontecendo, e por isto não posso dizer que viverei nesta fase pra sempre ou que daqui uns meses estarei me dedicando mais para os trabalhos na rua.

Quando você começou, imaginava que teria o reconhecimento que tem hoje?

Quando comecei, apenas pedi para Deus que me abençoasse na profissão que havia escolhido, e como não conhecemos os planos de Deus, nunca imaginei que seria assim.

Teve algum convite (parceria, local, país) que lhe surpreendeu ou marcou sua carreira?

Sim, o Castelo de Kerlbun foi um deles. Expor num museu na Suécia. Fazer um trabalho para a Fendi na Italia. Tenho alguns marcos.

Na sua opinião, o que precisa mudar para ter mais mulheres no grafite?

Não acho que as coisas precisam mudar, as mulheres estão caminhando corretamente e passando por muitos obstaculos. É só continuar assim.

Como você define seu estilo?

Meu trabalho é um reflexo de mim, sou um espelho do meu trabalho.

Leia entrevista com Mag Magrela

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