Diversão e Arte

Novo livro de Ziraldo conta a história de meninos de rua de Copacabana

Ao Correio, Ziraldo falou sobre a obra, a recorrência de meninos como personagens de trabalhos e a importância da visibilidade do Brasil em eventos literários internacionais

postado em 09/09/2014 08:27
Ziraldo:
Marrons, maluquinhos ou quadradinhos, os meninos sempre estiveram próximos de Ziraldo. Mas o cartunista e escritor ainda não havia produzido nada sobre os meninos de rua que enchiam as noites na Praça do Lido, em Copacabana, onde ele morava. O desejo de contar quem eram esses garotos se transformou em projeto para livro que deveria ter sido publicado no começo dos anos 1980, mas Ziraldo não sabia como ilustrá-lo. O texto foi escrito e reescrito por diversas vezes. ;Não sei desenhar meninos sofrendo. E a história ficou guardada na gaveta;, conta Ziraldo.




Foi quando Ziraldo reviu o mural Jogos infantis, de Cândido Portinari, no Palácio de Capanema. Desassossegou-se. ;Cheguei em casa e não dormi enquanto não achei uma das versões da história e não folheei todos os meus álbuns de Portinari, povoados de meninos brasileiros.; Ziraldo, então, recebeu a autorização de João Cândido Portinari, filho do artista, e as imagens dos meninos de Portinari ganharam voz na história que Ziraldo conta em Um menino chamado Raddysson, lançado em agosto durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Ao Correio, Ziraldo falou sobre a ideia do livro, a recorrência de meninos como personagens de seus trabalhos e a importância da visibilidade do Brasil em eventos literários internacionais, como as feiras de Frankfurt (Alemanha) e de Bolonha (Itália).

Ilustração de Ziraldo para Um menino chamado Raddysson: liberdade de viver
Confira entrevista com o Ziraldo

Como veio a ideia de fazer um livro cujo protagonista é um menino de rua?

Quando eu comecei a escrever livro para criança, fiz O Menino Maluquinho; já tinha vontade de fazer O Menino Marrom. Na Avenida Atlântida, no Rio de Janeiro, tem uma praça chamada Praça do Lido. Eu morava no último andar do prédio e toda noite eu trabalhava até tarde, sempre trabalhei até altas horas da madrugada; Então, o que me acalentava de noite, além de colocar minha musiquinha para ouvir, era a risada e a algazarra dos meninos brincando lá embaixo, na praça, como o recreio do colégio. Era o mesmo barulho dos meninos de escola rica. Eu chegava na janela e via aqueles meninos correndo numa alegria, de madrugada. Escrevi até uma nota no Pasquim sobre os meninos. E o Alírio Cavaliere, um juiz de menores de MG, me escreveu um bilhete comovido com o textinho que fiz. E agora, na hora de publicar o livro, procurei, procurei e não achei.

Qual o maior desafio ao escrever a história?

Eu não sabia como contar qual era o sentimento desses meninos porque conheço a alma de todos os meninos dos meus livros, meninos de classe média. Mas não sei como funciona a alma dos meninos de rua. Eu acho que eles não têm consciência de que são felizes ou infelizes. Não se pode ter sentimento em relação a uma coisa que não conhece. Então, sempre tive o cuidado de não fazer o livro para não ficar uma coisa sentimentaloide. O que se sabe é que eles viviam ali com uma liberdade extraordinária. Como eles não tinham referência nenhuma de felicidade, eles íam levando a vida deles.

E como as figuras dos meninos do Portinari entraram no livro?

Há alguns anos, eu estive no Palácio do Capanema, no Rio de Jeneiro, e tem um mural chamado Jogos infantis, do Portinari, que sempre gostou muito de criança. Desde os meninos dos Brodowski (município de São Paulo onde o artista viveu), que Portinari tem sempre ilustrações com meninos. Então, conto a história de um grupo de meninos. O filho do Portinari, João Cândido, é muito meu amigo e eu pedi autorização a ele para fazer o livro com os meninos do pai dele. Ele mandou uma autorização tão generosa, tão carinhosa, que eu fiquei com vergonha de publicar aqui. Eu pude fazer o livro todo ilustrado com meninos tirados dos quadros do Portinari. São recreios de meninos de noite, são esses meninos que conheci pulando e brincando na praça, com essa luz à noite. Escrevi a história e fui procurando desenhos do Portinari que pudessem ilustrar o que eu estava contando.

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