postado em 27/09/2014 08:03
Cada geração tem problemas, anseios, paixões e medos. Alguns artistas conseguem retratar as peculiaridades e as mudanças de seus tempos por meio da música. Esse é o caso de Lucas Santtana e Tatá Aeroplano, dois dos mais relevantes cantores e compositores da nova música brasileira, que acabaram de lançar discos novos: Sobre noites e dias, e Na loucura e na lucidez, respectivamente.
O baiano Lucas Santtana, descrito pelo New York Times como um dos melhores compositores brasileiros de rock, vem de uma trajetória de cinco álbuns em que a única constante é a mudança de direção entre cada um deles. Sobre noites e dias é quase um resumo de sua discografia. Samba, rap, funk, bossa-nova: tem de tudo no novo trabalho do cantor, ainda que a música eletrônica seja o fio condutor desse projeto inusitado.
;Este álbum nasceu na última turnê que fiz na Europa com os músicos Bruno Buarque e Caetano Malta. Por sermos só três pessoas e termos que dar conta de uma infinidade de sonoridades, começamos a usar muitas máquinas. Ainda assim, a música soava muito orgânica. Eu achei interessante e decidi usar esse formato. Usamos muitos sons sintéticos, mas cada take foi gravado do começo ao fim;, conta Lucas. Além dos três músicos, o disco conta com participação de Camila Pitanga, o rapper carioca De Leve, o trio Metá Metá, o baixista dos Paralamas Bi Ribeiro e a atriz Fanny Ardant.
O interesse do cantor pela tecnologia está presente tanto na feitura das canções como nos próprios temas que aborda em suas letras. ;Eu tenho uma cabeça meio de cientista. Sempre gostei de analisar e entender como as coisas funcionavam, seja um papel higiênico, seja um cadarço. Me interesso por tudo que o homem cria para melhorar a vida dos outros;, reflete Lucas. Mas a tecnologia é apenas um dos lados da moeda. Em Sobre noites e dias, Lucas Santtana usa as máquinas como meio para falar de sentimentos como o amor, a dor e o desejo.
Urgência de sentimentos
Quando começou a desenhar o repertório do segundo disco solo, o paulistano Tatá Aeroplano tinha duas coisas definidas: o álbum começaria com a faixa Na loucura e se encerraria com Na lucidez. O álbum Na loucura e na lucidez faz o percurso doloroso do término de um relacionamento até o momento em que a pessoa se liberta e fica em paz com a separação. Por meio de experiências próprias e do olhar sobre o outro, Tatá cria crônicas sobre o amor e a solidão nos dias de hoje.
;As coisas que eu escrevo fazem parte da minha vida e do que eu observo. Sempre fui muito observador. Também sou muito conectado com a cidade, sempre toquei à noite com as minhas bandas. Essa coisa de ser cronista, escrever e pensar o mundo, é natural para mim. Estou cada vez mais ligado nas questões do mundo, o que se reflete nas minhas músicas e acaba dialogando com a minha geração;, reflete Tatá.
Em Amiga do casal de amigos, o eu-lírico recebe um telefone às 5h30 de uma desconhecida que estava perto da sua casa ;com olhos de quem bebeu a noite inteira; e queria subir para se deitar com ele. Em Mulher abismo, ele se entrega às loucuras da noite para superar uma fossa: ;Tirei o pé da fossa/ E a noite se tornou uma devassa/ e eu sinceramente me tornei um animal;. ;Confesso que chamei algumas das meninas que você mais detestava;, revela à ex-namorada em Na lucidez.
Satélite 061
Museu Nacional Honestino Guimarães (Esplanada dos Ministérios). Shows hoje, a partir das 19h, e amanhã, a partir das 17h. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
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