Diversão e Arte

Marco Antônio Guimarães, do Uakti, fala sobre invenção de instrumentos

Durante mais de 40 anos de carreira artística, fez parcerias com o compositor minimalista Phillip Glass e teve como mestres Ernst Widmer e Walter Smetak

postado em 29/09/2014 08:50
Marco Antônio Guimarães inventou os instrumentos Aqualung, Nastaré, Panelário e TampanárioMarco Antônio Guimarães, líder do grupo Uakti, não é afeito a aparições. Avesso às entrevistas, o mestre mineiro do improviso e da criação musical vive uma vida reclusa em sua humilde casa-estúdio-oficina em Belo Horizonte, de onde não costuma sair. Ele nem sequer acompanha o grupo que lidera, Uakti, nas apresentações públicas, apenas nas gravações de estúdio. No entanto, aceitou falar com o Correio.



Uakti é um personagem lendário da tradição dos índios Tukanos que encanta e seduz por sua sonoridade). Como um alquimista, Marco converte pedras, madeiras, tubos de PVC, panelas, vidros de maionese, antenas de tevê, caixotes em música suave e sedutora. ;Teve época em que eu ia criando instrumentos por curiosidade minha, por deleite. Você consegue imaginar a magia que existe no instante em que acabou de construir um novo instrumento, está todo pronto e só falta se sentar com ele e tocar e aquela sonoridade acontecer pela primeira vez no mundo;, comenta o compositor em entrevista ao Correio. Durante mais de 40 anos de carreira artística, fez parcerias com o compositor minimalista Phillip Glass e teve como mestres dois grandes nomes da composição: Ernst Widmer e Walter Smetak, figuras importantes da música erudita.

Como conheceu Smetak e qual a importância dele em sua formação?

Quando decidi que seria músico e fui para a Bahia estudar (naquela época, 1966, a UFBA tinha uma das mais interessantes e vanguardistas escolas de música do Brasil), eu planejei que estudaria um instrumento de orquestra (tinha escolhido o fagote) e regência. Mas acontece que, como ocorre muitas vezes na vida, o planejamento inicial é só um motivo para mudar quase tudo depois ; segundo o que vier de inesperado, o que o ;acaso; nos apresentar. Certo dia, alguém que encontrei ao acaso num corredor do prédio me fez essa pergunta : ;Você já conheceu o louco do porão?; Isso, é claro, bastou para que eu, assim que tivesse um tempo livre dos estudos e criasse um pouquinho de coragem, descesse a escada que levava ao porão da escola. Walter Smetak trabalhava em um instrumento novo na sua bancada, olhou pra mim e com toda certeza viu meus olhos de adolescente brilhando com a descoberta maravilhosa de um mundo novo, colorido, inusitado. E disse para eu entrar e olhar à vontade.

Quais as consequências desse encontro?

Pouco depois parou o que estava fazendo e começou a me explicar sobre cada um dos instrumentos, falou os nomes (muito criativos e instigantes) de alguns e como eram tocados. Saí de lá maravilhado com aquela descoberta e decidido a voltar muitas outras vezes. Só não sabia, ainda, que esse encontro iria mudar minha vida e me inspirar como artista desse dia em diante. Aquela primeira vez em sua oficina, no porão da escola, foi completamente encantadora, definiu o que eu viria a fazer nos quase 50 anos seguintes e que resultaria no Uakti. Voltando a Belo Horizonte, um dia me passou pela cabeça um pensamento assim: ;Eu posso fazer isso!”

Mas o senhor já gostava de construir coisas?

Desde criança desenvolvi habilidades no uso de ferramentas incentivado pela minha mãe, Heloisa. E, por ter conhecido Smetak, ter convivido com ele durante anos, enxerguei uma porta se abrindo para mim como músico e artista. Meu avô por parte de mãe, Camilo, construiu sozinho (literalmente ) uma oficina no quintal de casa, feita de madeira, com máquinas e todo tipo de ferramentas onde ele estava sempre trabalhando em alguma coisa (com madeira, metal e outros materiais) e eu, bem menino ainda, gostava de ficar ao lado dele observando.


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