Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Adriana Calcanhoto organiza antologia com poemas de escritores brasileiros

"Haicai no Brasil" conta com versos de Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade e Paulo Leminski, entre outros



Todos os versos são acompanhados por ilustrações da própria organizadora. Ilustrar os haicais é uma tradição japonesa que Adriana decidiu trazer para o livro. Os desenhos são tão minimalistas quanto os poemas e compõem as rimas como se transportassem o leitor para um mundo de linhas, riscos e singelos pontilhados. A compositora conta que não foi difícil fazer a seleção para o livro e que os haicais ficaram bastante comuns depois do modernismo. ;Este foi um recorte natural. O aparecimento do haicai no Brasil converge com a baforada das ideias modernas. Acredito que foi a forma certa na hora certa, mas ele vem sendo mais e mais praticado por jovens e por crianças, aí sim, uma tradição. Todas as crianças no Japão aprendem haicai;, diz Adriana.

Ela acredita que hoje os versos inspirados na poesia japonesa são mais praticados do que foi o soneto no século 19. A existência de clubes e agremiações na internet ajudam a estimular o aparecimento de haicaístas e os versos publicados por Millôr e Leminski ajudaram a desmistificar o gênero. No posfácio do livro, Eduardo Coelho, professor de literatura brasileira na Universidade de São Paulo, explica como a história do modernismo e da poesia marginal se fundem com a do haicai no Brasil. Em 1925, Paulo Prado escreveu que tinha esperanças de ver os versos de Oswald de Andrade perderem a forma ;balofa e roçagante; graças à concisão do haicai. Quem popularizou a natureza como tema dos haicais foi um de seus maiores praticantes, o japonês Matsuô Bashô. Céus, flores, folhas e lua aparecem com frequência na seleção do livro. ;a noite ; enorme/tudo dorme/menos teu nome;, escreve Leminski. ;no brasil floriu/entre os ipês/o haicai japonês;, conta Jane Ribeiro. ;O pato, menina/É um animal/Com buzina;, diverte-se Millôr.