postado em 07/10/2014 12:47
A superprodução americana "The Eternal City" (A cidade eterna, em tradução livre), realizada em 1923 na Itália e com o ditador Benito Mussolini entre os protagonistas, foi exibida pela primeira vez em várias décadas nesta terça-feira (7/10) no Festival de Cinema Mudo de Podernone.
Rodada na capital italiana um ano antes da Marcha sobre Roma que levou Mussolini ao poder, o filme foi dirigido por um judeu polonês com pseudônimo de Samuel Goldwyn, que pretendia contar como era a vida italiana.
Segundo o jornal Il Messaggero, o filme, que passou muitos anos perdido, provavelmente porque enaltecia o ditador, foi encontrado recentemente nos arquivos do Museu de Arte Moderna de Nova York pela pesquisadora italiana Giuliana Muscio.
Do filme, como muitas imagens de "Il Duce" e de vários comparsas, foram salvos apenas 28 minutos, considerados valiosos do ponto de vista histórico, segundo o jornal romano.
"Dão a ideia do encontro entre Hollywood, com seu poder de sedução, e um ditador que intuía claramente que o nascente cinema era uma arma poderosa", destaca o jornal.
De acordo com Giuliana Muscio, os desfiles fascistas eram espetaculares, como se tivessem sido concebidos para o cinema, e o ditador era visto como um herói popular, cujo anticomunismo era uma garantia para os americanos.
"Estava tão entusiasmado com nosso projeto que seu gabinete ficava sempre aberto para nós", contou um dos técnicos aos organizadores do festival.
"Em 1923, um filme que glorificava Mussolini e o fascismo não significava para Hollywood uma tomada de posição desconcertante como parece hoje em dia", explica Muscio.
O filme, que não chegou a ser exibido na Itália, foi recebido com entusiasmo nos Estados Unidos, onde a comunidade italiana organizou manifestações de celebração.
Entre as imagens que foram salvas é possível observar os desfiles dos camisas negras pelas ruas do centro histórico de Roma e o olhar gélido de Mussolini em seu gabinete no Palácio de Veneza, quase um presságio em meio ao filme-propaganda.