Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Personagem da música Travessia do Eixão relembra história com Renato Russo

A canção que homenageia Noélia faz parte do último disco de estúdio da Legião Urbana

;Nossa Senhora do Cerrado
Protetora dos pedestres
Que atravessam o eixão
Às seis horas da tarde
Fazei com que eu chegue são e salvo
Na casa da Noélia;




Noélia namorou com o poeta Nicolar Behr durante algum tempo. Entre indas e vindas em eventos culturais de Brasília, esbarravam com Renato. "Ele era muito cortês, parecia muito contente de encontrar pessoas conhecidas na rua." Ela conta que sempre era recebida com um beijo na mão daquela figura constantemente em êxtase e com óculos de grau pequenos. "Até comprei uns óculos desses pra mim", conta, entre risos. "O Renato era muito empolgado, falava ;joia; pra tudo".

Noélia enxergava naquele rapaz algo que era diferente. Segundo ela, dava para prever, de alguma forma, que seriam grandes. "Acredito que, até hoje, ninguém alcançou o que o Legião fez. Tentaram, mas não conseguiram."

Apesar de não se encontrarem constantemente, Noélia afirma que existia uma relação de respeito e carinho com o cantor. "O Nicolas não gostava muito de sair à noite, eu gostava. Então, acabava sempre trombando com o Renato. Um dia, nos encontramos no Conic e batemos um longo papo. Disse a ele que havia escutado o disco deles e que tinha certeza que eles iriam estourar. Depois de uma longa conversa, Renato me mostrou as cicatrizes nos pulsos, decorrentes de cortes que cometeu na adolescência. Fiquei muito impressionada e surpresa pela sinceridade dele."

A poetisa se lembra de um show que ocorreu no Ginásio de Esportes Nilson Nelson, onde pessoas pulavam e se esgueiravam para chegar mais perto do palco. "Ali, tive a certeza da dimensão que o Legião teria. Esse cara ganhou o Brasil."

Para o poema abaixo, dedicado a Renato, Noélia conta que ele disse alguns "joias", como era de costume:

PUNK

Um som estridente
Cheio de dentes
Mordendo minha vontade
de dançar.
Um som espremido
De alguém parindo
eletricamente
Um aborto colorido.


(Atarantada, livro de poemas de Noélia Ribeiro)

Com informações de Mateus Vidigal