Diversão e Arte

Artista plástico Gê Orthof expõe obras entre a lembrança e a realidade

Exposição marca a reinauguração da Referência Galeria de Arte, agora instalada na Asa Norte

Nahima Maciel
postado em 16/10/2014 08:22

Gê Orthof reabre a Referência Galeria com trabalhos referentes à guerra
Uma mistura de lembranças pessoais e observação da realidade são a base de HA-gaz-AH, instalação que o artista plástico Gê Orthof inaugura no próximo sábado na reabertura da Referência Galeria de Arte. Fechada desde janeiro, a galeria que funcionava no Casa Park reabre as portas em um pequeno espaço de 13m x 3,5m na 205 Norte, no mesmo local em que funcionava, anteriormente, uma sinagoga. Judeu, Orthof ouve falar das guerras em Israel desde a infância e achou curioso o fato de ter sido convidado para a reabertura de uma galeria exatamente no mesmo local em que, um dia, houve um templo judaico.

Coincidentemente, o convite foi feito ao artista no momento em que se acirraram os conflitos mais recentes no Oriente Médio, em agosto último. Orthof resolveu então trazer os temas da guerra, da intolerância, do fundamentalismo e da memória para a instalação HA-gaz-AH. Gaza, claro, está contida no título, mas gaz se refere a um episódio vivido na infância. Filho da atriz e diretora Silvia Orthof, que deu aulas na Universidade de Brasília (UnB) na década de 1960 e foi perseguida pela ditadura, o artista se lembrou da invasão do câmpus em 1968. Ele estava com a mãe quando a polícia tomou os livros de Silvia e os condenou à fogueira. Deixou apenas do O capital, de Karl Marx.



Segundo um policial, o título era permitido porque ;falava do capitalismo;. A fala virou piada familiar e o episódio ficou gravado na lembrança, por isso Orthof decidiu inserir oito livros na instalação. Ele utilizou ainda 100 caixas de palitos de fósforo, material simbólico, já que é inflamável, para construir o trabalho. Para a obra, Orthof trouxe referências ao filme Farenheit 451, de François Truffaut. A adaptação de livro homônimo, escrito por Ray Bradbury em 1953, fala de uma sociedade na qual os livros são queimados para evitar a disseminação do conhecimento e a consequente redução do poder de controle sobre a população. ;O trabalho está contaminado por muitas histórias;, explica o artista, que também encontrou motivação na polarização das eleições no Brasil. ;É uma história de vizinhanças impossíveis, brigas eternas e insolúveis que a gente está, inclusive, vivendo na política do país neste momento e que vive há mil anos em Gaza. Isso é a história da humanidade.;

Orthof observa que, quanto mais um povo se avizinha, mais briga. Nessa luta, a memória é de uma delicadeza preocupante, e os livros e palitos de fósforo, tão frágeis e arcaicos, representam o quão fácil pode ser destruí-la. ;Eu queria trazer para o trabalho esse sentimento de segurança da memória, a única coisa que nos une, e o quanto ela é frágil e pode ser destruída por qualquer descuido. Para mim, a única salvação são os livros, e por isso eles são perseguidos.;


HA-gaz-AH
Exposição de Gê Orthof. Abertura sábado, às 17h, na Referência Galeria de Arte (SCLN 205, Bloco A, Loja 9). Visitação até 22 de novembro, de segunda a sábado, das 12h às 19h.

[SAIBAMAIS]

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