Diversão e Arte

Ruth de Souza usa a dramaturgia como arma contra o preconceito

A dramaturgia brasileira não seria a mesma sem a atriz Ruth de Souza

postado em 03/11/2014 08:02
Ruth começou a carreira nos palcos, com a Cia. Teatro Experimental do Negro

Os dias de vigor já não são mais os mesmos. Os 93 anos diminuíram a força do corpo, mas não a vontade da mente em continuar trabalhando. Ruth de Souza falou ao Correio direto do quarto do hospital em que está internada à espera de cirurgia para colocar um marca-passo. Por alguns minutos, relembrou sua trajetória, histórias e sentimentos que marcam a vida no teatro, no cinema e na televisão. Em cena, a atriz hipnotizava a atenção do público, comovia sem explicações. O olhar delicado guarda o talento e a sensibilidade de uma grande mulher.


Ruth de Souza começou nos palcos. Foi com a Cia. Teatro Experimental do Negro que viu a oportunidade de interpretar, e de realizar um sonho. Em 1945, ela foi a primeira atriz negra a se apresentar no nobre palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. ;Estava começando a carreira. Tinha muita esperança;, lembra.

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[SAIBAMAIS]Ao longo de 70 anos, a veterana fez mais de 40 novelas, sem contar as participações especiais na televisão. Estrelou 33 filmes e encenou dezenas de peças. Ainda jovem riram quando disse que queria ser atriz. A vocação calou a voz do preconceito e dos mais incrédulos. A persistência escreveu um caminho que abriu as portas para os artistas negros. ;Consegui fazer o que queria, apesar de debocharem de mim no início. Sabia que conseguiria. Quando você quer uma coisa, vai atrás;, afirma. Também foi a estreante entre as protagonistas negras de telenovela, em A cabana do pai Tomás (1969).

;Diretamente, não sofri preconceito, porque sempre o enfrentei. As únicas armas que temos para combater o racismo é a educação, a postura e o comportamento;, destaca. No meio profissional, afirma não ter passado por situações constrangedoras. ;Sempre consegui trabalhar sem ser ferida por ser negra;, conta. O cenário do começo é bem diferente de hoje. Apesar das conquistas por melhores papéis e de maior representatividade, a dramaturgia no país precisa ainda ter mais respeito aos negros.

Na década de 1950, Ruth ganhou uma bolsa de estudos para se aperfeiçoar nos Estados Unidos. Estagiou na Karamu House, em Cleveland. Depois em Harvard e Howard, bem como a Academia Nacional de Teatro Americano, em Nova York. A experiência durou um ano. Ali atuou no teatro amador americano, o que possibilitou a desenvolver o aprendizado em diversas áreas da dramaturga, como iluminação, som e vestuário.

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