Nahima Maciel
postado em 06/11/2014 08:03
Há dois anos, o escritor Ronaldo Costa Fernandes resolveu deixar a prosa descansar e foi dar uma volta com a poesia. O resultado, extremamente produtivo, chega agora ao segundo livro. O difícil exercício das cinzas, que o autor lança hoje, no Carpe Diem, reúne 69 poemas escritos nos últimos dois anos em uma série de momentos que Costa Fernandes identifica como ;visitas;. ;A prosa é extremamente cansativa, você leva um ano, no mínimo, escrevendo um romance. E eu escrevo diariamente. Me cansei um pouco e a poesia, ela vem a mim. Você recebe a visita da poesia; a prosa, você tem que sair para visitá-la;, explica.
[SAIBAMAIS]No livro, o poeta se deixa visitar por temas como a morte, a condição humana e a incomunicabilidade. ;Procuro trabalhar com a ironia e, às vezes, certo humor. Mesmo nas coisas mais dramáticas ou trágicas, trabalho com leveza;, avisa. ;Mas, no fundo, o livro é sobre a condição humana e sobre estar no mundo.; A visão melancólica e a inquietação existencial de Costa Fernandes se anunciam em versos como ;Caí em mim/e não consigo subir; e ;os pesadelos se dividem/em pesadelos de água doce/e pesadelos de água salgada;.
A incomunicabilidade entre os homens também está na mira do poeta. O isolamento facilitado pelo espaço urbano contemporâneo e o que chama de ;um certo sonambulismo; emergem de versos como ;Cresce a plantação de silêncio/Os pés mudos enfileirados;. A tecnologia, acredita Costa Fernandes, é um fermento que faz crescer o bolo da incomunicabilidade. ;E isso tenho observado, escuto muito as pessoas reclamarem que você chama alguém para jantar e a pessoa tira logo o celular;, repara. ;É um tema meu, esse da solidão, de estar e não estar com o outro.;
Mundo virtual
A tecnologia também aparece nos versos de Alberto Bresciani que integram Hiperconexões ; realidade expandida. O livro é uma compilação de versos de 65 poetas que tratam do pós-humano, uma era na qual o homem estaria se transformando em um ser resultante da combinação da máquina com o animal. Organizada por Luiz Bras, pseudônimo de Nelson de Oliveira, o livro é um segundo volume de uma experiência iniciada em 2013 e tem também versos de Ronaldo Cagiano, outro nome da poesia brasiliense. ;Nessa antologia, você vai encontrar poemas que se ambientarão desde um momento mais radical, de que não existe mais a espécie humana, até o meu, que se prende mais na virtualização das relações;, conta Bresciani.
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