Em silêncio, ouvindo música, em rabiscos nos guardanapos ou em teclados de computadores de última geração; a literatura pode acontecer em qualquer lugar. Depois de ter o livro em mãos ou o e-book na tela, a maneira como o escritor trabalhou será quase sempre um mistério que instiga aos leitores mais curiosos. É desse momento que trata o projeto 2 mil toques: a rotina dos escritores, o seu dia a dia.
A página nas redes sociais e o site do 2 mil toques () já revelou como trabalham quase 50 escritores e a ideia é que o número vá crescendo com o tempo. ;Meu objetivo com o projeto é trazer luz as rotinas e os processos do máximo de escritores que eu conseguir. Investigar a cena literária brasileira, dos mais desconhecidos até os nomes publicados por grandes editoras;, explica o também escritor André Timm, que desenvolveu a página.
Criado em junho, 2 mil toques recebeu quase 1,8 mil curtidas na rede social e tem 200 seguidores no site que abriga os textos publicados. ;Números nada modestos considerando que se trata de literatura;, ressalta Timm. O desejo de criar a página surgiu dos próprios dilemas do escritor em lidar com os afazeres que dificultam a escrita. O trabalho em uma agência de publicidade, a vida em casa, a procrastinação. Como superar essas barreiras? ;A resposta, claro, é ser hábil em estabelecer métodos e uma rotina de produção bastante disciplinar;, conclui.
[SAIBAMAIS]Um dos principais motivos da criação do projeto foi conhecer e levar mais longe como os escritores trabalham e de que forma lidam com as dificuldades do ofício. ;Expor as rotinas e os processos envolvidos no dia a dia dos escritores para tornar isso público e, por que não?, se apropriar das boas ideias e torná-las públicas para mais gente se beneficiar;, conta.
Pelas postagens do 2 mil toques já passaram tanto autores ainda desconhecidos quanto nomes publicados por grandes editoras, caso dos gaúchos Antônio Xerxenesky, Carol Bensimon e Luisa Geisler. Os três foram escolhidos em 2012, pela revista Granta, como um dos 20 melhores jovens escritores brasileiros.
Para contar o dia a dia, cada um dos escritores narra a sua rotina de produção e, em alguns casos, as próprias motivações para escrever. Uma das expectativas para o futuro do projeto é levar os textos para livro. ;Fora isso, a ideia é continuar até que se esgote, o que deve demorar para acontecer em um país que tem tantos escritores (ou mais) quanto leitores;, afirma.
De que forma acontece o processo de seleção dos autores? Existe alguma predileção por certo tipo de escritores ou a ideia é ser mais plural?
O processo de seleção é bastante orgânico. Parte da seleção veio dos nomes que eu já conhecia e a outra parte foi se dando através de busca e indicação de outros escritores. Recentemente algo interessante começou a acontecer. Devido a boa repercussão, diversos escritores têm tomado a iniciativa de pedirem para participar. Não existe nenhuma predileção por gêneros ou tipos de escritores. Desde o início, a ideia foi que o projeto fosse muito diverso e plural, pois acredito que dessa maneira consigo ter uma panorama mais amplo das rotinas e processos do maior número possível de escritores.
Como é sua rotina de administrador da pagina?
É uma rotina simples. Antes de cada texto na íntegra gero teasers com algum recorte do texto que será postado. São quase aforismos, pois no contexto tomam ares de conselho e são postados na página na rede social. Todos eles ganham uma roupagem gráfica também, para se tornaram mais atrativos. Dou muita importância para o aspecto estético do projeto como um todo. Na sequência, posto o texto na íntegra, junto com a foto do autor.
Como você enxerga o mundo digital, a internet para a divulgação de escritores e da literatura em si? Acredita que as mudanças atinjam a maneira de se produzir?
Podem atingir a maneira de produzir, embora isso não seja determinante. Veja, hoje existem, por exemplo, projetos digitais voltados para a questão do fazer literário. Um exemplo é o NaNoWriMo (National Novel Writing Month), onde todo ano, em novembro, milhares de pessoas no mundo tem como objetivo produzir o esboço de uma novela em um mês. Depois, se aprofundam, mas o principal é ter um rascunho bruto em 30 dias. Começou na internet e acontece por meio dela. Portanto, acho que sim, a internet pode mudar a forma de produzir para quem se interessa em buscar meios alternativos.
Você, como escritor, vê nesse tipo de iniciativa virtual um caminho para novos autores?
Sem dúvidas. As iniciativas digitais abrem possibilidades que podem tornar o caminho um pouco menos complicado para novos autores. Nesse caso, podemos citar desde o fenômeno das auto-publicações (que tem seus méritos e deméritos), mas permitem que qualquer um publique, até os selos especializados em publicações digitais, como o e-galáxia, pelo qual tenho um livro publicado, que tornam possível publicações mais acessíveis, já que eliminam uma série de custos das publicações tradicionais (impressão, distribuição, etc). Não resolve a vida de ninguém, mas sabendo usar bem é uma ferramenta muito proveitosa.
A literatura na web
Outras páginas em que a escrita é protagonista
;A Ilustríssima dos fracassados;, segundo a própria descrição do projeto. Escritores entrevistam outros escritores, em tom livre, sobre literatura, produção e a própria vida. Marcelo Mirisola e Mário Bortolloto são exemplos de autores entrevistasdos
Perfis de escritores, feitos pelo jornalista Luiz Nadal, que misturam realidade e ficção a partir das próprias obras dos autores. André Sant;Anna, Marcelino Freire, Ricardo Lísias e Bernardo Carvalho são alguns dos que compoem o cátalogo de perfilados por Luiz Nadal