Wassily Kandinsky não chegou à abstração que o revelou para o mundo por acaso. Também não foi uma opção estética calculada de acordo com os ventos soprados pela arte naquela primeira metade do século 20. As explosões coloridas do pintor russo que hoje valorizam as coleções dos maiores museus do mundo vieram de anos de encanto com as raízes da cultura popular russa, com os trajes usados por povos do norte, com a simplicidade colorida das casas dos camponeses, com as paisagens deslumbrantes do país e com a crença de que o artista tem também uma missão espiritual. Para se ter uma noção desse conjunto de influências, seria preciso percorrer pelo menos oito museus do interior da Rússia, além de umas boas horas nas salas do Museu Estatal de São Petersburgo, numa espécie de caça a Kandinsky. A dupla de curadores Evgenia Petrova, diretora do museu, e Joseph Kiblitsky facilitou o percurso para o público brasileiro ao selecionar as obras da exposição Kandinsky: tudo começa num ponto, que tem abertura para convidados amanhã à noite e abre para o público na quarta-feira no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Com mais de 150 obras provenientes de nove museus russos e de coleções particulares da França, Alemanha, Áustria e Inglaterra, a exposição estreia em Brasília antes de seguir para Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte até novembro de 2015. Nascida de uma parceria entre o Museu de São Petersburgo e a produtora Arte A, a exposição custou R$ 7,2 milhões e o mais complicado foi a logística para reunir as obras. ;É incomum que uma exposição tenha obras como essas que figurem tanto tempo fora do museu;, explica Rodolfo de Athayde, um dos sócios da Arte A.
Petrova e Kiblitsky quiseram montar um percurso no qual o público pudesse contextualizar a trajetória do pintor e compreender como ele chegou à abstração. ;Normalmente, se faz exposições em que há apenas obras abstratas de Kandinsky, e as pessoas pouco conhecem sobre os trabalhos não abstratos dele;, diz Petrova. O artista nasceu em 1866 e estudou direito e economia porque não via futuro na pintura. Tela, tinta e pincel só entraram em sua vida por volta dos 30 anos. Como jurista e etnógrafo ele foi enviado a uma expedição no norte da Rússia, onde sua pintura começou a amadurecer e tomar os rumos que o levariam a ser considerado o primeiro pintor abstrato da história da arte. As cores dos trajes usados pelos povos nativos do norte, suas práticas místicas que envolviam o xamanismo, os interiores coloridos das casas, os contos populares e as canções folclóricas encantaram o artista, assim como uma leva de pintores simbolistas empenhados em estudar, captar a alma e revelar o ;grande norte; da Rússia.
[SAIBAMAIS]Alguns desses contemporâneos tiveram importante participação no cenário da época e por isso estão entre as escolhas dos curadores para a exposição em Brasília, que tem ainda peças de arte popular e de práticas xamânicas. Entre eles, estão Gabriele Münter, que foi mulher do artista, Kazémir Malevich, que passou pela abstração antes de assumir de vez o suprematismo, e Mikhail Larionov e Nikolaiévich Filónov, duas joias da arte russa segundo Petrova.
SERVIÇO
Kandinsky: tudo começa num ponto
"Exposição com 130 obras de Wassily Kandinsky e de outros 26 pintores russos. Abertura terça-feira (11/11), às 20h, no Centro Cultural
Banco do Brasil (CCBB- Setor de Clubes Sul, Trecho 2). Visitação até 12 de janeiro, de quarta a segunda, das 9h às 21h.
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