Diversão e Arte

Gaspard Ulliel e Bertrand Bonello comentam o filme sobre Yves Saint Laurent

O ator e o diretor do longa comentam a indicação do filme ao Oscar e os bastidores da produção

Ricardo Daehn
postado em 19/11/2014 08:01
Ulliel em cena no filme Yves Saint Laurent

Na crista da onda ao promover o filme Saint Laurent pelo mundo, o ator Gaspard Ulliel admite que completou dois quesitos tidos como fundamentais pelo ícone da moda que ele interpreta nas telas: beleza e riqueza. ;Não me acho feio e, comparado ao resto do mundo, em termos monetários, me sinto confortável. Estou bem satisfeito com o que tenho;, diz. O que faltaria então ao ator que, aos 29 anos, já competiu em Cannes, e agora entra no rol de acesso ao Oscar, dadas as chances de que o filme ; em cartaz em Brasília ; esteja na competição norte-americana. ;Juventude, talvez, seja o que você mais queira manter, o tanto quanto possível. É o que se perde e nunca mais há uma segunda chance. Acho que ficaria com a juventude eterna;, completa o astro.

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Tempo e idade sempre tiveram peso na vida do ator. ;Comecei a trabalhar muito cedo, e buscava paciência para me tornar mais velho ; por causa da futura riqueza dos personagem que teria;, sublinha. Em retrospecto, Ulliel desabona escolhas do passado, como a de ter interpretado o jovem Hannibal Lecter (eternizado por Anthony Hopkins). ;São momentos muito distintos da minha carreira. Provavelmente, não faria mais hoje em dia;, analisa. Passados sete anos, o fato de representar Yves Saint Laurent nas telas ; ;com misto de força e fragilidade; ; tem repercutido positivamente.



[SAIBAMAIS];As pessoas que me viam na rua, naturalmente, tendiam muito mais aos elogios. Já a reação da imprensa foi espetacular. Em termos de crítica, foi um enorme sucesso. Quanto ao público, não foi um hit completo, na França: longo e rotulado como filme de arte, ainda assim, foi bem;, conta o ator.

Com dois anos para encarnar o protagonista do filme de Bertrand Bonello, Ulliel percebeu o desafio ;engenho e complexo;. ;Laurent, muito jovem, teve que aguentar extrema pressão ; criar três ou quatro coleções por ano exigia muito trabalho. Ele precisou batalhar muito pela inspiração. Laurent não tinha muito tempo para desenvolver uma vida pessoal, já que a dele foi, constantemente, trabalhar, trabalhar e trabalhar;, observa o artista.

Prêmios
Astro do longa, Ulliel faz coro com o diretor da fita Bertrand Bonello, que sente como "uma grande honra ter sido escolhido pela França para representar o país" na possível disputa por um Oscar em 2015. "Na França, o Oscar não tem o peso que ganha em outros países. É bacana receber o reconhecimento dos colegas. Porém, não há mudanças significativas na carreira francesa. Para os americanos, esse prêmio representa um ponto muito alto. Claro que seria um mérito para nossa equipe, mas ainda não fomos indicados", desconversa Ulliel.

Moda e sexualidade são temas do longa

Bonello está à frente de uma fita, em termos, ousada, numa época movida a apelo sexual e traz astro com nu frontal, além da presença dos eletrizantes Léa Seydoux (ela, na pele da emblemática modelo Loulou de la Falaise ) e Louis Garrel (interpretando o modelo Jacques de Bascher). O galã Garrel, amante de Karl Lagerfeld na trama, aparece num tipo que ostenta as piores das influências. "Eu não inventei nada disso, estava na vida do personagem. Vi claramente ele como alguém sem nenhum passado e menos ainda, futuro. Daí talvez a fascinação de Laurent, que, na sua vida, cultivava muitos limites", explica o diretor.

Gaspard Ulliel demarca limites no bafafá em torno das cenas gays, com relativa exposição, no longa-metragem. "A sexualidade está conectada ao personagem. O cinema está a serviço de eliminar discriminações, inclusive no terreno sexual. Quando trabalho um personagem, a circunstância não dialoga diretamente com a minha vida íntima e pessoal. Não existe lugar para vergonha, num set. Há a facilidade de as ações não tocarem a sua personalidade", sublinha. "Foi de certa forma, fácil (ter cenas de sexo com Louis Garrel). Tivemos intimidade, de imediato. Claro, que teve momento assustador. Mas, foi fácil e espontâneo. O diretor nos deixou bastante tranquilos. É apenas um trabalho", emenda. O entrosamento foi natural com um dos símbolos sexuais da França: "Fui sortudo. Garrel é muito criativo, tenta surpreender o parceiro de cena".

O ator e o diretor do longa comentam a indicação do filme ao Oscar e os bastidores da produçãoDuas perguntas // Bertrand Bonello

Há uma redoma que acondiciona Laurent num cotidiano bem superficial. Isso ocorre com você, por estar cercado da indústria de cinema? Você entende a desilusão parcial do personagem com a música, por exemplo?

Claro que existe superficialidade com alguns circuitos de cinema. É algo de fato a ser criticado, mas temos que viver com essa realidade. Acho que ainda é possível encontrar bons filmes e músicas, ainda que o leque haja diminuído. No filme, quis dar relevância à frieza que contaminou a música, nos anos 80, em contraste com a dos anos 70 que foram muito quentes.

Houve elogios à forma como retratou o ateliê de Laurent e peças de sua coleção. De onde veio a precisão?
Gosto de moda, mas não cultivo obsessões com relação ao tema. Durante o filme, sim, me cerquei muito das revistas. Me interessei particularmente pelo trabalho e pela economia geradas. Existem regras muito rígidas nos centros criativos ligados ao fazer da moda. É como no exército: há normas muito estabelecidas. Na produção, tivemos que recriar todos os vestidos e modelos já que os verdadeiros, atualmente, são, de fato, peças de museu. Seria difícil até manipulá-los. Também recriamos coleções inteiras feitas pelo estilista. Foram quase cinco meses que contaram com a dedicação de profissionais, costurando, vestido por vestido.

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