Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Artista plástico Gê Orthof fala sobre a utopia de Brasília

Morador da cidade desde 1964, o professor declara seu amor pelo que a construção da cidade representou para o país



O que é, para você, a utopia de Brasília?
São várias camadas, uma é política, mas essa, infelizmente, foi ceifada muito cedo. A própria UnB, que era um dos projetos pedagógicos mais revolucionários do mundo, virou a coisa mais reacionária. Brigo até hoje, a última coisa que a minha mãe me disse foi: ;Gê, saia de lá, pois aquilo é um ninho de cobras;. A imagem mais clara da burocracia na UnB é a do barco que se bate contra o penhasco criada por Maiakóvski. Um projeto tão poderoso que é boicotado o tempo todo por essa produção de 500 artigos de não sei o que de nada que não se atém a nada. É um projeto de burocratização como um todo que asfixia qualquer projeto de criação.

[SAIBAMAIS]A imagem de Brasília tornou-se muito negativa para o restante do país. Qual é o principal desentendimento sobre a cidade?
Esse desentendimento é fruto da ignorância sobre o projeto da cidade. Recentemente, vieram à UnB os curadores da última Bienal e começaram a falar coisas absurdas, chavões sobre a burocracia e a corrupção e a decadência da arquitetura. Todos têm o direito de criticar, mas não podem desconhecer a história e as qualidades de um pensamento. Comecei a falar do vazio, do silêncio, e, ao fim, eles vieram me agradecer. Nunca tinham ouvido falar de Brasília assim. Criticavam o aspecto monumental da arquitetura. Ora, a única coisa monumental em Brasília é o vazio. A arquitetura é só uma maquete. Os prédios só têm seis andares. Monumental é o vazio do Eixo. Essa entrelinha nos foi doada generosamente por Lucio Costa e Oscar Niemeyer. A gente olha para o céu, olha para a grama, e resolve nossa vida. Que presente maior poderíamos receber de uma cidade?

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