Adriana Izel
postado em 24/11/2014 08:13
BNegão ficou famoso no mundo da música, principalmente, após integrar o grupo Planet Hemp, no qual foi vocalista e compositor durante sete anos. Desde a época da banda, o artista, que atua nos projetos BNegão Trio e BNegão & Os Seletores de Frequência, além de discotecar, se tornou conhecido por escrever canções que tratam de assuntos como política, pobreza e discriminação racial. Músicas como Enxugando o gelo, É fim de mês e A verdadeira dança do patinho, por exemplo, retratam o cotidiano do povo brasileiro e a descrença do cantor com o sistema. ;Coloco esses assuntos porque sou isso aí. Fui criado nessa realidade e nesse sistema, mas sabendo ler as entrelinhas;, afirma o cantor em entrevista ao Correio.No bate-papo, o rapper, que responde tudo sem rodeios, falou sobre questões relacionadas à cultura negra como afrofuturismo ; uma vertente apoiada por ele ;, racismo e cotas raciais: ;Não tem como não ser a favor. É uma dívida histórica. Só que isso está muito longe de ser uma reparação;. Ele ainda comenta a cena atual da música e sua carreira, que foi muito influenciada pelos brasileiros Tom Zé e Seu Jorge.
Você é um dos defensores do afrofuturismo. O que é essa tendência?
É um conceito que fala sobre passado, presente e futuro da cultura negra. São as coisas ultramodernas, mas que têm conexão com esse passado. Tem muita gente que faz isso, a própria Nação Zumbi e a galera do Baiana System. Para entender o conceito é só ouvir o que utilizo no BNegão Trio. Mas quem faz isso de forma mais profunda hoje é o grupo Baiana System.
Qual é a importância de valorizar essa cultura negra?
Acho fundamental, faz parte da gente. Aqui, no Brasil, vivemos uma situação muito maluca. Não sabemos muito bem quem somos. A história do país é muito mal contada. Até hoje, a princesa Isabel é tida como benfeitora, mas vale lembrar que o Brasil foi o último país que acabou com a escravidão e o fez porque estava ficando feio e caro. A nossa história é mal contada e isso vai até os dias de hoje. Ninguém fala sobre a ditadura militar. A Comissão da Verdade não pode mexer no assunto que causa um reboliço. O Brasil tem essa amnésia forçada e programada, então, buscar a cultura é importante seja ela negra, indígena, seja europeia.
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Esta ;amnésia programada; também é uma das causas do racismo?
As pessoas não sabem quem são nem de onde vieram. É uma parada histórica. Se o Brasil fosse um país que colocasse os negros no lugar dos portugueses ia dar no mesmo. E faz pouquíssimo tempo que a escravidão acabou. O pior é que os negros foram libertados e não receberam nenhuma condição. Deu no que deu. Tem toda uma questão histórica. O tempo todo o negro está sendo achatado. O preconceito, por exemplo, não é só uma questão ;branco e preto;. É uma realidade de que o ser humano não consegue viver com a diferença, seja ela de clube, de bairro, de cor, de qualquer coisa. O racismo está dentro do homem. É uma incapacidade de conviver com as diferenças, que são exatamente as riquezas na nossa história. As pessoas não conseguem viver com sotaques e diferenças, basta lembrar que teve esse preconceito agora com a população do Nordeste e do Norte por conta das eleições.
Você falou de eleições, quais são as suas expectativas para os próximos quatro anos?
A minha expectativa é bem bizarra para esse período. Enfim, em mais um dos crimes da ditadura militar contra a população, eles sumiram e mataram muita gente que queria mudar o Brasil. Ou simplesmente fizeram essas pessoas desistirem. Hoje, era para gente ter uns 20 líderes para escolhermos, não ter que decidir entre o retrocesso e o menos pior.
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