Agência France-Presse
postado em 30/11/2014 15:56
Muitos fantasiados como as famosas personagens criadas por Roberto Gómez Bolaños, o "Chaves", uma multidão de mexicanos aguardou por horas em uma longa fila para poder participar das homenagens que o comediante falecido recebeu este domingo no Estádio Azteca.
"Era como um irmão, como um tio, como um pai. Por isso viemos aqui para nos despedir dele", declarou Esteban Chávez, um dos muitos fãs de Bolaños que não escondia sua tristeza. O caixão com os restos de Bolanos foi levado para o estádio, que pertence à rede Televisa, para onde o comediante trabalhou boa parte de sua carreira.
No estádio do América, o time de coração de Bolaños, foi colocada uma grande cruz de madeira entre duas enormes fotos do comediante. A cerimônia religiosa foi transmitida ao vivo pela tv mexicana, assim como para outros países onde o programa criado por Bolaños conquistou legiões de fãs.
Pombas brancas foram soltas e o caixão deu uma última volta pelo estádio, ao fim da cerimônia religiosa realizada na presença de familiares, amigos, políticos e artistas.
O corpo de Bolaños foi velado no sábado nos estúdios da Televisa, e estiveram presentes, além de sua segunda esposa, a atriz Florinda Meza - a dona Florinda - e seus seis filhos, atores como Edgar Vivar (Seu Barriga) e Carlos Villagrán (Kiko), que, apesar de ter mantido uma delicada disputa judicial com o comediante falecido, não deixou de reconhecer sua genialidade.
"Se foi um gênio, um mestre (...) Devo a ele tudo que sei e serei eternamente agradecido", declarou Villagrán que, junto com María Antonieta de las Nievas (Chiquinha) disputaram com Bolaños os direitos autorais de suas personagens.
No sábado, Bolaños também recebeu um minuto de aplausos no Estádio Azteca por parte dos torcedores que foram ver a partida entre o América e o Pumas. No trajeto do caixão entre sua residência em Cancún e a Televisa, também foi ovacionado pelas pessoas nas ruas. O legendário comediante morreu na sexta-feira, aos 85 anos, de causas ainda não divulgadas.
Em suas últimas aparições públicas, Bolaños sempre se deslocava com o auxílio de uma cadeira de rodas. Ele fez rir gerações de crianças latino-americanas, com personagens inesquecíveis como 'Chapolin Colorado' e 'Chaves', que usava do humor para revelar os profundos temores que o assombravam desde criança.
Por causa de sua prolífica escrita, que rendeu roteiros para rádio, televisão, cinema, teatro e inclusive vários livros, Bolaños foi apelidado por um colega de 'Chespirito', um pseudônimo que aliava a comparação com o talento do dramaturgo Shakespeare e um diminutivo que refletia a sua baixa estatura.
O comediante nasceu em 21 de fevereiro de 1929 em uma família de classe média da Cidade do México. Seu pai, um boêmio amantes das artes, trabalhou como desenhista e ilustrador para importantes jornais, mas a vida desregrada provocou sua morte precoce, quando o pequeno Roberto tinha apenas seis anos.
Quando adolescente, Bolaños sonhava ser jogador de futebol e se destacou em torneios escolares de boxe, que disputava escondido da mãe. Aos 22 anos, começou a estudar engenharia mas se aventurou a escrever anúncios em uma agência de publicidade e logo estreou como roteirista em programas de rádio, televisão e cinema que ganharam fama.
Mais tarde, aproveitou a ausência de algum ator nas gravações para fazer graça diante das câmeras, dando os primeiros passos para o comediante que interpretaria personagens nascidos em sua própria imaginação.
Aos 40 anos, Bolaños estreou na televisão mexicana com o programa "Chespirito" que, com interpretações diversas, ficou no ar por 25 anos ininterruptos em horário nobre e foi exportado para inúmeros países.
Mas seu personagem mais celebrado foi 'Chaves', um menino órfão e pobre que vivia dentro de um barril, em uma vila suburbana, e repetia a frase "foi sem querer, querendo" para se desculpar de suas travessuras.