Diversão e Arte

Em entrevista, Michel Teló fala sobre a popularidade do estilo sertanejo

"Esse tipo de discussão e de polêmica não muda em nada a ampla aceitação do estilo, é simplesmente a opinião deles. Não altera o fato de a música sertaneja ser a mais bombada e ouvida pelo público", explica

postado em 06/12/2014 09:55


Não faltam argumentos aos críticos da música sertaneja atual: há quem diga que o estilo perdeu a essência. Outros reclamam das letras repetitivas e de pouco refino, bem diferente das antigas modas de viola. A saudade da terra e do sertão deu lugar a temas como o desejo de andar em belos e caríssimos carros amarelos e dicas de como se dar bem na balada.

Um dos maiores nomes do gênero, Michel Teló não se abala com as condenações ao ritmo. Para ele, o sertanejo é um dos melhores símbolos da transformação sócio-econômica do país. ;Nos primórdios da música sertaneja o Brasil era um país rural, e a partir dos anos 1950, passou a ser urbano, se modernizou. O estilo precisava dessa evolução;, afirmou, em entrevista ao Correio.

A reação de Teló a comentários ácidos de cantores conhecidos pela língua afiada, como Rita Lee e Lobão, é tranquila. Mesmo quando dispararam frases comparando o sertanejo universitário a algo que ;beira a demência;. ;Eles sempre falaram da música sertaneja, seja a de raiz ou o universitário. Esse tipo de discussão e de polêmica não muda em nada a ampla aceitação do estilo. É simplesmente a opinião deles;, diz o compositor do hit Ai se eu te pego, que projetou o sertanejo mundialmente.

Lançada em 2011, a música ficou em primeiro lugar nas paradas de vários países, com Itália e Espanha. A canção ficou popular até na Coreia. O fato parecia impossível ao paranaense que, aos 11 anos, já tocava em bailes sertanejos no Mato Grosso do Sul. ;Ter uma música cantada em países onde as pessoas não sabem falar nenhuma palavra em português é algo inédito, pelo menos da maneira que aconteceu com Ai se eu te pego;, pondera Michel, que continua em boa fase profissional. Este mês, ele lança o CD e DVD Bem sertanejo, compilação das entrevistas com grandes nomes do estilo.

Na balada
Amem ou odeiem, mas é preciso aceitar: a música sertaneja vende e tem público cativo. É o estilo musical mais tocado nas rádios brasileiras (de acordo com a pesquisa Tribos Musicais, divulgada pelo Ibope no ano passado). Criado em terras tupiniquins, hoje o sertanejo recebe forte influência das músicas country e pop americanas. Mais que um ritmo, passou a ser, também, uma nova forma de entretenimento. ;Em vários lugares do país há casas noturnas e bares totalmente voltadas ao sertanejo. Esse é um tipo de público que não existia, e eu fui um dos responsáveis por criar esse movimento, onde toda novidade vem a somar;, acrescenta Teló.

//ENTREVISTA

Muitos cantores e artistas atacam o sertanejo, acusando o estilo de ter letras pouco refinadas. Como você reage a críticas como essas?
Eles sempre falaram da música sertaneja, seja a de raiz ou o universitário. Esse tipo de discussão e de polêmica não muda em nada a ampla aceitação do estilo, é simplesmente a opinião deles. Não altera o fato de a música sertaneja ser a mais bombada e ouvida pelo público. A música sertaneja mudou. O Brasil deixou de viver no campo. Se a música sertaneja está tão popular, tão forte é porque fala do cotidiano das pessoas. Ela acompanhou essa evolução. É lógico que há quem goste de música de raiz, mas queremos tocar o que a galera quer ouvir e curtir nesse momento. Eu toquei em baile a minha vida inteira, desde os 11 anos. Venho do conceito de que o grupo que tocava em baile cheio, que todo mundo curtia, era o grupo bom.

Em contrapartida, a cada 10 músicas tocadas nas rádios, sete são sertanejas. Porque você acha que as pessoas se interessam tanto pelo estilo?
Justamente porque a galera do sertanejo entendeu o que as pessoas querem ouvir. É muito importante ter essa vertente mais urbana, mais moderna. Roberta Miranda fala disso. Na época dela, vivia-se diferente. Hoje, há um outro tipo de amor. A galera não está mais curtindo aquela dor de corno de antigamente. Os jovens querem se apaixonar, eles gostam do estilo romântico, mas também querem curtir, fazer festa. Não queremos falar só do amor sofrido. Há o amor que dá certo, o amor de uma noite, de balada. O sertanejo está afinado com esse papo, e espero que continue assim. Está muito semelhante à música pop internacional. Essa adequação do estilo não é um fenômeno novo. Veja Chitãozinho & Xororó, Zezé di Camargo & Luciano, Leandro & Leonardo. Cada um, em sua geração, conseguiu fazer com que a música viesse ao encontro do que as pessoas viviam.

Quais características sobreviveram a passagem do tempo para o estilo sertanejo, desde a música caipira ao universitário?
O que fica é o respeito que os músicos têm pela musica sertaneja e sua história. Todos os cantores ; inclusive os da nova geração ; têm esse respeito e em todos os nossos discos trazemos alguma regravação ou algumas canções que relembrem a sonoridade da sanfona e da viola. Algumas vezes, até os cantores solo colocam a segunda voz, dando às canções essa sonoridade nostálgica, do violão e da sanfona. Isso ainda é muito presente na música sertaneja, mesmo a universitária. Nos primórdios da música sertaneja o Brasil era um país rural, e a partir dos anos 1950 passou a ser urbano, se modernizou. O estilo precisava dessa evolução. Esse é o segredo do sucesso da música sertaneja, hoje um dos principais estilos musicais do Brasil.

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