Diversão e Arte

Criador de Eu me chamo Antônio lança novo livro com poesias visuais

Obra de Pedro Gabriel Anhorn tem ilustrações e textos mais longos. Confira a entrevista com o autor e resenha feita por Clarice Freire, a pernambucana autora do Pó de Lua

Diário de Pernambuco
postado em 13/01/2015 15:09
Um dos desenhos é quase uma recriação de

O primeiro romance de Pedro Gabriel Anhorn ainda não foi concluído, mas tem um protagonista conhecidíssimo. É a voz narrativa de Segundo: Eu me chamo Antônio (Intrínseca, 192 páginas, R$ 29,90), livro originado do projeto homônimo, popular nas redes sociais. Publicitário nascido no Chade e radicado no Brasil desde os 12 anos, o autor deixou um pouco de lado os famosos guardanapos utilizados como plataforma poética. Em nova obra impressa, ele aposta em ilustrações e textos mais longos.

[SAIBAMAIS]Um dos desenhos é quase recriação daquele feito por Antoine de Saint-Exupéry para O pequeno príncipe (1943): de cima de um planeta, Antônio observa as estrelas. A princípio, Pedro não notou a semelhança. Para ele, a aproximação entre os traços veio do inconsciente, uma vez que o clássico marcou a infância. Mas a atmosfera onírica é proposital, distante da linguagem "de boteco" do primeiro livro, lançado em 2013. "Realmente comecei fazendo as poesias nos guardanapos de um bar. É como se o protagonista deixasse esse ambiente para entrar no mundo dos sonhos", analisa.

O novo volume surge como intermediário entre os versos enxutos da estreia e o texto de maior fôlego, ainda em fase de construção e sem previsão de lançamento. Com público formado majoritariamente por adolescentes entre 13 e 15 anos, Pedro Gabriel acredita na conquista de uma nova geração desacostumada a ler poesia. Cada folha de guardanapo utilizada por ele equivale a uma página da caderneta da escritora e publicitária pernambucana Clarice Freire, criadora do Pó de Lua, projeto semelhante a Eu me chamo Antônio. A poesia visual inspirada no concretismo é um chamariz para o internauta. Somente no Facebook, eles mobilizam, juntos, mais de dois milhões de usuários.

A aposta de grande editora nos publicitários de 30 (Pedro) e 26 anos (Clarice) só foi possível graças a um fenômeno literário ainda em curso. Lançada no começo do ano passado, a reunião da obra poética de Paulo Leminski, Toda poesia, vendeu mais de 100 mil exemplares. A trajetória bem-sucedida do curitibano inspirou a publicação de antologias como as de Waly Salomão, Ana Cristina Cesar, Adélia Prado, Murilo Mendes, Jorge de Lima e ainda abriu caminho para poetas de primeira viagem. Ou de segunda, no caso de Pedro Gabriel.

Entrevista// Pedro Gabriel



Pedro Gabriel: Poesia visual é um novo nicho?
É uma tendência, mas não algo novo. Tem uma influência forte do concretismo. O casamento do desenho com a palavra ajuda a atrair a atenção do usuário da internet. Quando a pessoa vê surgir no seu mural um guardanapo, vai lá ver, mesmo que não goste de poesia. É uma maneira de atrair novo público. O sucesso do livro do Leminski foi muito importante. É uma obra cheia de versos curtos, com apelo para a internet, mas que deu certo também nas livrarias. Foi essencial para fazer com que as editoras acreditassem em quem faz versos.

Algum plano para lançar o segundo livro no Recife?
Sim. Recife foi a cidade em que o lançamento do primeiro livro atraiu mais gente. Foram mais de 400 pessoas. Tem muita gente pedindo, então sem dúvida vai estar na agenda de 2015. Já pedi à editora para colocar como prioridade.

No que o novo livro se diferencia do primeiro?

A diferença é que não há apenas poesias em guardanapo. Isso abriu espaço para fragmentos de textos, algo que as pessoas pediam e que eu desejava. Também investi mais em ilustrações, tive segurança para desenhar mais. Mergulhei no preparo gráfico. A capa colorida já mostra a diferença. Nela, Antônio e sua musa inspiradora observam um labirinto de palavras, que é a capa do primeiro livro. É como se tivessem olhando para trás e mostrando que ali começa uma nova etapa. Na contracapa, Antônio está sozinho, o que pode ser interpretado de duas maneiras: a musa é uma poesia que se personificou até sumir, virar livro, ou então ela foi embora e o abandonou.

Alguns desenhos lembram O pequeno príncipe. Foi uma inspiração?

Muita gente me falou isso. De fato existe essa atmosfera de sonho. O primeiro livro tinha uma linguagem de botequim, porque ele nasceu no bar. Costumo dizer que agora Antônio saiu do bar e entrou no mundo dos sonhos. O desenho lembra O pequeno príncipe, o fato de o personagem olhar para as estrelas, para o mundo. Esse livro me marcou bastante, então deve ter sido uma influência do meu inconsciente, mas na hora de criar não pensei diretamente.

A inversão no título tem algum significado?

Sim, tentei brincar com a palavra "segundo". Ela dá a ideia de que eu já lancei um primeiro, mas também é unidade de tempo. São pensamentos que duram um segundo, bem breves, espontâneos. Segundo é também preposição, o que dá a entender que os pensamentos são do personagem Antônio.

Você sempre identificou o Antônio como "personagem de um romance que está sendo escrito e vivido". Quando sai o livro em prosa?
Acho que nesses dois livros ele está sendo mais vivido do que escrito. Mas também estou escrevendo o romance, sem pressa. Para fazê-lo, estou lendo, pesquisando sobre o que quero contar. Não quero lançar somente porque o primeiro deu certo, mas contar uma história de uma maneira mais tranquila. É um segundo passo. Aos poucos mostro ao leitor que não faço somente poesia no guardanapo, mas tenho outras coisas para mostrar.

A poesia visual é um novo nicho? Enxerga um futuro interessante?

É um tipo de poesia cada vez mais popular. O sucesso do livro do Leminski (Toda poesia) no ano passado, impulsionado pelas redes sociais, foi muito importante. É uma obra cheia de versos curtos, com apelo para a internet, mas que deu certo também nas livrarias. Isso é ótimo, porque existe uma geração que não estava acostumada a ler poesia. Também foi importante para fazer com que as editoras acreditassem em quem está escrevendo versos. A poesia visual é uma tendência, mas não algo novo. Tem uma influência do concretismo. No meu caso e no da Clarice (Freire, do Pó de lua), o casamento do desenho com a palavra ajuda a atrair a atenção do usuário da internet. Quando a pessoa vê surgir no seu mural um guardanapo (no meu caso) ou uma página de moleskine (no caso da Clarice) vai lá ver, mesmo que não goste de poesia. É uma maneira de atrair esse público, até porque nossos leitores são jovens de 13, 15 anos. Muita gente diz que teve coragem de escrever e mostrar os próprios versos inspiradas nos meus desenhos.

Algum plano para lançar o livro no Recife?

Sim. Recife foi a cidade em que o lançamento do primeiro livro atraiu mais gente. Foram mais de 400 pessoas. Para fazer ainda este ano fica apertado, mas tem muita gente pedindo, então sem dúvida vai estar na agenda do próximo ano. Já pedi à editora para colocar como prioridade.

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