Esgotados desde os anos 1990, três livros do francês Patrick Modiano, ganhador do Nobel de Literatura em 2014, retornam às prateleiras das livrarias brasileiras repaginados e com novos posfácios. Lançados em três momentos diferentes da trajetória do escritor, Ronda da noite, Dora Bruder e Uma rua deRoma reúnem o fundamental para compreender as temáticas caras ao autor.
[SAIBAMAIS]Dos três lançamentos, Ronda da noite é o mais emblemático e permite uma boa introdução à obra de Modiano. Em 128 páginas, o pequeno romance narra o drama individual que é, também, o drama de uma cidade. Abandonada após a invasão alemã no início da Segunda Guerra, Paris está nas mãos de traidores e de militares inimigos. Uma resistência se organiza de maneira um tanto mambembe, o que não impede a preocupação dos invasores. Lamballe ; tal qual a princesa linchada durante a Revolução Francesa ; ou Swing Troubadour (Modiano nunca revela o nome do personagem) é um agente triplo que circula entre os resistentes e os inimigos com a missão de delatar planos e nomes aos dois lados.
Pilhagens de palacetes abandonados, extorsão, tortura e deduragem fazem parte do cotidiano do personagem, que um dia quis ser resistente de verdade, mas que acabou seduzido pela ilusão de poder proporcionada pelo outro lado. A morte assombra Lamballe tanto quanto sua própria falta de moral. Ele sabe que, quando tudo acabar, vai morrer, possivelmente linchado, como os traidores da França ocupada. Mas nada é oferecido de bandeja neste pequeno romance. Há muitas lacunas que o autor preenche ao longo da narrativa, de acordo com as lembrança do protagonista.
Ronda da noite foi publicado em 1969, e é o segundo volume de uma trilogia sobre a ocupação, tema que perpassa uma parte significativa da escrita de Modiano. No posfácio, o escritor Flávio Izhaki lembra que, no romance, o autor ;pôde pensar o particular e a cidade, temas tão caros à sua obra posterior;. Izhaki repara que loucura e luxúria andam de mãos dadas no romance e ajudam a definir o protagonista. ;O mundo quedaria para um dos dois lados, por isso a urgência das personagens;, escreve.
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