Diversão e Arte

Naturezas mortas contemporâneas ganham exposição na Alfinete Galeria

Em A morte chega cedo, artista plástica Raquel Nava dá visão nova ao conhecido estilo

Nahima Maciel
postado em 20/01/2015 08:04

Raquel trouxe para as galerias elementos  das naturezas mortas. A artista frequentou o departamento de taxidermia da UnB para armar a instalação
Foi por conta do crânio de um coelho que Raquel Nava se deparou com o mundo da taxidermia. Com a intenção de reproduzir algumas ideias desenvolvidas em pinturas pré-rafaelitas de naturezas mortas, a artista queria o esqueleto de um coelho para compor uma fotografia e encontrou o material no Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB). Por lá, graças ao taxidermista César Leão, Raquel descobriu outros animais e percebeu que poderia usá-los em uma instalação. A morte chega cedo começou, então, a tomar forma como uma consequência de outros caminhos já explorados pela artista.

Na pequena Alfinete Galeria, Raquel montou uma representação de naturezas mortas contemporânea com referências que buscam sentido na própria história da arte. Esqueletos e bichos empalhados aparecem com uma certa frequência nesse gênero e, por isso, estão por toda parte na galeria. ;Eles estão ali para lembrar que a vida é efêmera. É uma releitura. Não tem todo o simbolismo porque cada objeto naquelas pinturas tem o seu significado;, avisa.

Sobre um sofá de couro cujo pé está enterrado em um pote de manteiga, um lagarto observa um rato que se debruça sobre uma tigela de leite. No chão, um tapete de couro de vaca. O som ambiente, uma interferência sonora criada por Luiz Olivieri, ecoa ruídos associados aos animais. De memória, Raquel revisita uma cena vista em um templo indiano dedicado aos roedores. Numa parede, o esqueleto de um gato vem acompanhado de uma imagem do animal despedaçado. ;Isso vem um pouco do meu interesse pela sociologia do animal.

[SAIBAMAIS];Comecei a frequentar o Hospital Veterinário e tenho pesquisado quais são os objetos que encontramos hoje no comércio e que utilizam pedaços de animais. Isso vai entrar cada vez mais em extinção;, repara Raquel, que propõe uma reflexão sobre a presença dos animais no cotidiano humano e sobre a maneira como os homens se relacionam com os bichos. ;Hoje tem pássaros que custam R$ 3 mil. Queria pensar em como nós objetificamos esses animais;, diz a artista, que há alguns anos pesquisa essa relação. Ela já trabalhou com a cochonilla do carmim, o inseto que fornece a tinta vermelha outrora usada para tingir as roupas dos cardeais e hoje amplamente empregada na indústria alimentícia, e com a representação dos órgãos sexuais em pinturas carregadas de um erotismo orgânico e cru.

A morte chega cedo
Exposição de Raquel Nava e Beatriz Toledo com intervenção sonora de Luiz Olivieri. Visitação até 31 de janeiro, de quarta a sábado, das 15h às 20h na Alfinete Galeria (CLN 116, Bloco B, Loja 61)


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