A historiografia da música popular brasileira sobrevive diante de vários folclores. Muitos deles giram em torno do compositor Assis Valente, baiano radicado no Rio de Janeiro, que se suicidou aos 50 anos, em 1958. Autor de músicas clássicas de nosso cancioneiro, como Brasil pandeiro, E o mundo não se acabou e Fez bobagem, o artista teve uma vida realmente atribulada, e vários detalhes da passagem dele por aqui são contados minuciosamente na recém-lançada biografia Quem samba tem alegria, do jornalista Gonçalo Junior.
Ao longo de mais de 500 páginas, o autor esmiuça as cinco tentativas de suicídio do compositor (ele só teria sucesso na sexta), a relação dele com a cantora Carmem Miranda, para quem compôs várias de suas canções, e não confirma a suposta homossexualidade de Assis, já que sua intensa apuração não apontou para isso em nenhum momento.
“A sociedade não perdoa o suicida: se o cara tenta se matar e não consegue, vira um pária; se consegue, torna-se um tabu. A pessoa passa a carregar uma maldição”, observa Gonçalo Junior em entrevista ao Correio. A primeira tentativa de Valente de tirar a vida ocorreu em 1941, quando pulou do morro do Corcovado, no Rio, e, surpreendentemente, saiu praticamente ileso — quebrou duas costelas durante o resgate, após ser retirado da árvore em que ficou preso. À época, o artista estava viciado em cocaína. Carmem Miranda, sua principal intérprete, havia se mudado para os Estados Unidos, e ele estava atolado em dívidas.
QUEM SAMBA TEM ALEGRIA
De Gonçalo Junior. Editora Civilização Brasileira, 644 páginas. Preço: R$ 65.
Cantora nota dez
“Eu era uma cantora, gravei muito na vida, gravei muita música de carnaval, uma série de marchas espetaculares, gravei sambas, tirei prêmios, isso e aquilo. Mas eu nunca quis ser rainha do samba, receber troféu… Sempre fui uma pessoa humilde, não querendo nada! É por isso que estou aí até hoje e não pretendo ganhar nada de ninguém. Não pretendo ser rica. Meu negócio é ir levando. Só.”
Este trecho da entrevista dada pela cantora Aracy de Almeida ao programa Vox populi, da TV Cultura, em 1979, revela um pouco da sinceridade que marcou a trajetória da artista carioca. Desbocada, polêmica e considerada a principal intérprete da obra do compositor Noel Rosa, Araca, como era conhecida, acaba de ganhar um livro onde algumas de suas frases e depoimentos são reproduzidos, ajudando a desvendar um pouco desta personagem fundamental do samba e da música popular brasileira do século 20.
ARACY DE ALMEIDA — NÃO TEM TRADUÇÃO
De Eduardo Logullo. Editora Veneta, 216 páginas. Preço: R$ 34,90
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