Ela foi criada em Taguatinga, ganhou a desinibição, com o tempo, em oficinas de teatro da cidade, até como mascote de turmas de adultos. Aos 26 anos, a atriz Camila Márdila passou pela prova de fogo: praticamente, no segundo longa-metragem feito na vida, Que horas ela volta?, dividiu com Regina Casé o prêmio de melhor atriz no Festival de Sundance (Utah, Estados Unidos), desbancando Nicole Kidman. ;Penso muito sobre ser brasiliense, coisa que sinto como um privilégio;, comenta Camila, que tem pela frente ;a incógnita; de tomar parte do Festival de Berlim. Na sequência da sólida formação nos palcos da capital, muito incrementada pelos irmãos Guimarães, Camila Márdila deixa claro o vínculo com a cidade, acusado pelos próximos passos: o lançamento de O outro lado do paraíso (filmado em Brasília) e uma futura aparição em fita de José Eduardo Belmonte.
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Como começou todo o interesse pelas artes?
Basicamente, é uma história bem tradicional: minha mãe me colocou no teatro, quando era criança. Fiz várias oficinas. Eu era extremamente tímida, e no decorrer do tempo, me aperfeiçoei em cursos. Acabei entrando para o curso de comunicação social, na UnB, e, com o tempo, me envolvi bastante com cinema. Também trabalhava com produção e preparação de elenco. Agrada muito a mim isso de dividir várias funções. Eu sempre soube, de certa forma, que seria atriz, até por ser a coisa que mais gostei de fazer. No meio da faculdade, cogitei até trocar de curso. Tentei um pouco mais, e consegui casar os planos de me formar, há quatro anos, e seguir atuando.
Como uma candanga pode embutir sotaque num filme como Que horas ela volta?
Durante o processo do filme, eu fiz o teste e a gente não se prendeu à questão do sotaque. Anna Muylaert, a diretora, achou que isso seria o menor dos problemas. Começamos a ensaiar, e nisso disse que tinha muitas referências de Pernambuco. Eu adoro, viajei para lá várias vezes. Gosto muito das músicas de lá, entre outras coisas. Sou extremamente fã da banda Eddie, que fez a trilha do filme, e há proximidade de Brasília com Recife, por causa dos meninos do projeto Criolina ; os DJs sempre trazem as bandas de Pernambuco, tipo Orquestra Contemporânea de Olinda. Gosto muito da Karina Buhr. Então, voltando ao sotaque: ele veio sem nenhuma preocupação rígida, nos ensaios. Tudo foi fluindo.
[SAIBAMAIS]Contracenar com a Regina Casé foi intimidador?
De forma alguma. Quando me chamaram para fazer o teste, já estava certo que a Regina Casé ia fazer, e fiquei muito feliz. Sou uma grande fã, desde a época do TV Pirata. Estar com ela foi um grande estímulo: nunca acreditei no trabalho de um ator só. Propensas à troca, mais a gente ;se; melhora. Encontrá-la era um grande tesão, na ideia de fazer Que horas ela volta?. De cara, eu já sabia que ia aprender muito.
É preciso sair da cidade, para fazer um sucesso mais palpável?
Não, de forma alguma. Há uma produção intensa de amigos na cidade que está se afirmando. As pessoas querem ter seu próprio coletivo. Querem descobrir, por si, o processo de criação. Não podemos comparar Brasília com São Paulo e Rio de Janeiro, por causa da idade. A gente está em formação, e o artista tem que viajar bastante. Tento sempre contribuir para esse movimento, de reciclar, trazer novidades. No meu caso, que moro há três anos entre Rio de Janeiro e São Paulo, foi uma questão pessoal isso de querer sair de Brasília por um tempo. Sou uma pessoa que gosta muito de mudar de cidade. Ano passado, tivemos uma atriz ;naturalizada; brasiliense, a carioca Fernanda Rocha. Não fazer o menor sentido uma regra de que é preciso sair de Brasília para faz sucesso ; aliás, a Nanda fez justamente um movimento contrário.
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