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Leonard Nimoy, coadjuvante que virou protagonista mundial como o sr. Spock

De simples coadjuvante, Nimoy virou um dos protagonistas de Star Trek e ganhou uma legião de fãs. A lógica vulcana virou uma espécie de inspiração para um período emocional tão conturbado em que a personagem surgiu, os anos 60.

Leonard Nimoy teve a carreira marcada por seu papel como o lógico alienígena meio-humano, meio-vulcano sr. Spock, de "Jornada nas Estrelas/Star Trek", mas também atuou como diretor, roteirista, compositor, poeta e fotógrafo.

Nascido em Boston, em 1931, filho de pais judeus originários da Ucrânia, Nimoy começou a atuar ainda quando criança e sua carreira profissional, iniciada na década de 50, foi marcada por muitos filmes B e participação em vários seriados famosos do período, como "Bonanza", "Dragnet", "Além da Imaginação", "Os intocáveis", "Quinta dimensão", "Perry Mason", "Gunsmoke", "O Agente da U.N.C.L.E." e "Agente 86".

[SAIBAMAIS]

A grande oportunidade veio mesmo em 1966 quando foi escolhido por Gene Roddenberry para viver o emblemático sr. Spock, que, a principio, seria apenas uma personagem alienígena de tons meio diabólicos e misteriosos.

Ator sensível, Nimoy logo percebeu que aquela personagem - que muitos colegas consideravam um risco para qualquer carreira séria - era um presente que havia recebido.



Logo ele se dedicou a compor uma personagem complexa e cheia de nuances psicológicas, que pouco tinha a ver com o tipo clássico das aventuras de ficção científica.

De simples coadjuvante, Nimoy virou um dos protagonistas da série, e ganhou uma legião de fãs. A lógica vulcana virou uma espécie de inspiração para um período emocional tão conturbado em que a personagem surgiu, os anos 60.

O fato é que "Star Trek" tinha muito pouco a ver com os seriados infantis de aventura da época e acabou se transformando numa obra precursora, a primeira série televisiva de contracultura, e o Spock de Nimoy em muito contribuiu para isso, apesar de ter sofrido vários obstáculos para se firmar, como a Igreja católica, que, na época, encrencou com aparência satânica do personagem e quase conseguiu que fosse eliminado da série.

Mas tanto Roddenberry como Nimoy insistiram e o personagem acabou virando o ícone que ainda é passado quase 50 anos.Pelo personagem, Nimoy recebeu três indicações ao Emmy, o Oscar da tv americana.


Vida longa e próspera

Nimoy sempre teve por sua criação um respeito profundo, a ponto de, na época em que gravava a série, se preocupar em não se deixar ser fotografado rindo quando estivesse caracterizado de vulcano para não ferir a dignidade do personagem. Foi ele inclusive que criou muitos dos detalhes do personagem, como a saudação vulcana "Vida longa e próspera", que teve como inspiração um gestual de bênção judaica.

Nos anos que se seguiram ao cancelamento da série, Nimoy voltou a atuar em telefilmes, sem maiores repercussões, e também emprestou sua voz à versão animada que "Star Trek" ganhou em 1973.

Nesse período, lançou alguns álbuns e livros de poesia até que, em 1977, surgiu com sua polêmica autobiografia, "Eu não sou Spock", que muitos acharam que era uma negação ao personagem que o tornara conhecido no mundo. Ao contrário, no livro Nimoy mantinha um diálogo direto com seu alter-ego vulcano, demonstrando o quanto o personagem o influenciara, embora ele e Spock fossem, obviamente, "pessoas diferentes".

Ele quase voltou a reencontrar sua criação quando, no final dos anos 70, aventou produzir uma nova série de "Star Trek - Fase 2", cujo projeto acabou engavetado.

Mas, com o megasucesso de "Star Wars", em 1979 a Paramount resolveu levar "Star Trek"para o cinema como uma superprodução dirigida por Robert Wise. As subseqüentes continuações da série no cinema fizeram com que Nimoy se reencontrasse com o sucesso e o levasse a diversificar suas atividades.

Dessa forma, passou para trás das câmeras e dirigiu o terceiro e quarto longas de "Star Trek", sendo que "Star Trek IV: a volta para casa" foi então o filme de maior sucesso da série no cinema.

Ele também assumiu a direção de outros filmes, como "Coisas engraçadas do amor", com Gene Wilder, e "Três solteirões e um bebê", de 1987, uma das comédias de maior bilheteria da época.

Nos anos 90, Nimoy continuou a atuar, mas decidiu se dedicar a uma de suas grandes paixões, a fotografia, e envolveu-se totalmente com uma série de ensaios, como "The Shekhina Project", um estudo fotográfico do aspecto feminino de Deus, inspirado na Cabala.

Plenamente à vontade com sua ligação indissociável com a figura do estóico sr. Spock, jamais se negou a reprisar o papel desde que considerasse o contexto adequado e, com isso, participou como convidado especial em alguns episódios da primeira série originada da "Star Trek Clássica", "A nova geração".

Mais recentemente, na nova versão revisada da série para cinema, "Star Trek" (2009), além de viver o vulcano agora com 129 anos, fez uma espécie de "passagem de bastão" do personagem para o ator Zachary Quinto, que a partir de agora encarna Spock em seus anos de juventude.

Em função de sua boa relação com o diretor e produtor desse novo filme, J.J. Abrams, Nimoy aceitou o convite para fazer um papel-chave na série de TV "Fringe", embora tenha anunciado que estava se aposentando como ator.

Leonard Nimoy foi casado duas vezes, com a atriz Sandra Zober (1954-1987), com quem teve um casal de filhos, e com Susan Bay, desde 1988. Seu filho, Adam Nimoy, hoje é diretor de televisão.

O fato de ter sido fumante por anos sempre debilitou sua saúde e Nimoy sempre enfrentou problemas respiratórios.Em um entrevista ao "talk show" de seu colega e amigo pessoal, William Shatner (o capitão Kirk), Nimoy também surpreendeu os fãs ao revelar seu alcoolismo, um problema que surgiu basicamente na época em que gravava Star Trek, e com o qual lutou durante anos até que, finalmente, conseguiu se recuperar.