Diversão e Arte

Mercado editorial mergulha em catálogo seguro para garantir vendas

Uma série de relançamentos estão marcados para este ano

Nahima Maciel
postado em 02/03/2015 07:50

Uma série de relançamentos estão marcados para este ano

A lista de reedições do mercado editorial para 2015 é uma aposta segura em ano de crise. Os números do mercado em um país de não leitores ; segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, o brasileiro lê, em média, menos de quatro livros por ano ; indicam que o setor não tem crescido nos últimos anos e, provavelmente, não vai crescer nos próximos meses. As reedições são uma forma de tentar movimentar essa economia e acontecem, geralmente, porque uma editora adquiriu os direitos, os títulos estavam esgotados ou para celebrar uma efeméride. Mas a lista de 2015 é convidativa.


[SAIBAMAIS]A Companhia das Letras vai reeditar, este ano, a obra de Thomas Mann, que pertencia à Nova Fronteira, e já começou a republicar os livros de J. J. Veiga. A editora comprou os direitos dos livros de Mann e vai começar o relançamento com Morte em Veneza, Tonio Kr;ger e A montanha mágica. Para o segundo semestre estão previstos mais dois títulos, ainda em estudo. Já a obra de Veiga, que pertencia à Record, volta às prateleiras com nova embalagem para celebrar os 100 anos de nascimento do autor. Até agora, a Companhia lançou o romance A hora dos ruminantes e a reunião de contos Os cavalinhos de platiplanto, ambos com novos prefácios assinados por Antonio Arnoni Prado e Silviano Santiago, respectivamente.


No selo Biblioteca Azul, da editora Globo, a estrela de 2015 será John Updike. No ano passado, a editora lançou três volumes que, anteriormente, haviam sido editados pela Companhia das Letras. Agora, é a vez dos romances Quer casar comigo? (1977) e Busca minha face (2002), ambos com novas traduções, respectivamente, de Pedro Sette-Câmara e George Schlesinger. Em 2014, a Biblioteca Azul também deu início à reedição da obra de Aldous Huxley, há muito esgotada nas livrarias brasileiras. O escritor já fazia parte do catálogo da Globo, mas dessa vez o relançamento chega a 15 títulos, a maior parte com as traduções originais (Erico Veríssimo chegou a traduzir Huxley), o que forma um conjunto bastante interessante

Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel


Segundo a pesquisa divulgada pelo Snel/Fipe em 2013, o preço médio do livro no mercado diminuiu em 2,94% entre 2012 e 2013, mas o faturamento aumentou em 8,34% e o número de exemplares, em 11,68% . O que isso diz sobre a indústria do livro? O mercado está crescendo ou está estagnado? O aumento de 8,34% no faturamento? É pequeno?

Os números a que você se refere dizem respeito especificamente ao segmento de Obras Gerais e vendas ao mercado (excluindo Governo), que são ressalvas importantes. O aumento no faturamento foi acima da inflação e praticamente em linha com o PIB, o que mostra uma certa estagnação do mercado. Mas vale a pena comemorar o crescimento de exemplares vendidos. Com relação aos novos ISBNs, este número está consolidado em todas as categorias, o que compromete a sua análise. De qualquer forma 21.000 novos lançamentos por ano demonstra a vitalidade da indústria editorial brasileira, que enfrenta problemas de distribuição/logística e falta de capital de giro.

Reeditar é apostar em um porto seguro, em uma venda garantida?

Aqui vale a pena esclarecer que na pesquisa a reedição é na verdade a reimpressão de títulos de catálogo. Uma reedição de fato, com atualizações de conteúdo, trocas de capas ou quaisquer modificações que justifiquem um novo ISBN são tratadas como primeiras edições. Uma editora vive basicamente de sua capacidade de reimprimir os títulos que publica, já que os custos editoriais não se repetem, gerando margens que permitem o reinvestimento em novos projetos. A venda nunca é "garantida", mas você trabalha com o histórico das vendas passadas.

O quanto as reedições representam no mercado de livros na categoria obras gerais?

Tomando como base a produção (já que a pesquisa não apresenta os números de vendas separados), eu estimaria entre 70 e 80%, mas evidentemente isto varia de acordo com as características de cada editora.

Como, na sua opinião, a crise e o arroucho de 2015 vão refletir na indústria do livro?

2015 não será um ano fácil, com os impactos de inflação e a diminuição do consumo. Reza a lenda que em anos de crise a indústria editorial consegue se manter pois o livro é um excelente custo/benefício em comparação com outros bens/serviços culturais. Nós pretendemos monitorar o mercado mais de perto, com a ajuda dos Institutos de Pesquisa, e criar campanhas de incentivo à leitura.

Leonardo Bastos, sócio da consultoria Catavento e mestre em estratégia pela COPPEAD.

O número de títulos reeditados entre 2009 e 2012 representa, em média, 60% do total de livros editados a cada ano, com variações para pouco mais ou pouco menos. Qual é, na tua opinião, o impacto das reedições no mercado editorial?

As reedições são importantes na medida em que representam uma fonte importante de recursos para editoras e livrarias, inclusive para o financiamento de novos títulos. As reimpressões são mais rentáveis para editoras, visto que não incorrem nos custos fixos das primeiras edições e proporcionam maior previsibilidade de caixa tanto para as editoras quanto para as livrarias. E isso é fundamental pra o planejamento de qualquer negócio. Por outro lado, o crescimento contínuo de títulos não necessariamente é saudável para editoras e livrarias, principalmente se a demanda por livros e os canais de distribuição não acompanharem esse crescimento. Quando isso acontece, novos títulos terminam por disputar o mesmo espaço e os mesmos leitores. E esse processo pode reduzir a rentabilidade da indústria na medida em que pode comprometer o potencial de venda de muitos títulos associado associado ao lançamento de novos títulos que envolvem custos e investimentos inciais da editora, como antecipação de direitos autorais, divulgação, etc., que são mais baixos nas reedições.

De certa forma, as reedições são os pilares do mercado editorial? Elas o sustentam?

É difícil afirmar isso com os dados disponíveis. Nesse sentido seria necessário saber qual a representatividade das reedições sobre a receita total da industria ao longo do tempo. E a relevância das reedições variam de editora pra editora. O fato é que reimpressões são indispensáveis para a sustentabilidade do negócio do livro e, conforme mencionei anteriormente, para financiar novos títulos também. Mas no médio e longo prazo, as editoras precisam lançar novos títulos para renovarem e ampliarem suas linhas de receita.

Que critérios, na tua opinião, norteiam o trabalho de escolha dos títulos e autores reeditados?

Essa é uma questão muito interessante no mercado do livro. Essa escolha pode basear-se em diferentes critérios. Depende muito do perfil e estratégia de cada editora. Embora variáveis econômico-financeiro, como volume de vendas e margem do livro são cada vez mais diretrizes importantes para essa decisão, outras variáveis como posicionamento da editora em termos de catálogo, cláusulas contratuais com agentes literários ou editoras estrangeiras, relacionamento da editora com autor e agentes literários, e ate gosto pessoal dos dirigentes também podem influenciar essa escolha.

Como, na sua opinião, a crise e o arroucho de 2015 vão refletir na indústria do livro?

O impacto das medidas de ajuste do governo afetam direta ou indiretamente todos os setores da economia. Para o mercado editorial, o aumento da taxa básica de juros e a maior dificuldade no acesso ao crédito torna mais caro arriscar novas publicações, visto que os custos de oportunidade representado pelo "encalhe" de exemplares é mais alto agora. Por outro lado, com a perspectiva de dólar mais alto, os custos de aquisição de direitos fora do Brasil e a importação de insumos do processo produtivo do livro também ficaram mais caros e deve pressionar a rentabilidade do mercado. Por fim, é preciso observar se o ajuste proposto pelo governo nas esferas federal, estadual e municipal pode afetar as compras de livros por meio dos programas governamentais como o PNBE e PNLD.

Segundo a pesquisa divulgada pelo Snel/Fipe em 2013, o preço médio do livro no mercado diminuiu entre 2012 e 2013, mas o faturamento aumentou, assim como o número de títulos? O mercado está crescendo ou está estagnado?

Essa queda não representa uma estagnação. Pode ser apenas uma ajuste. Seria preciso uma análise histórica para entender se o mercado esta estagnando, o que pelo nossa pesquisa não estava acontecendo. Um aumento de 11,68% é representativo, principalmente quando comparado ao crescimento do PIB.

Reeditar é apostar em um porto seguro, em uma venda garantida?

De certa forma sim. É um movimento mais conservador que deve se acentuar no próximo ano, visto o cenário mais restrito e incerto de 2015.

Fique de olho nas reedições


; Três mulheres de três Ppps, de Paulo Emílio Salles Gomes (Companhia das Lestras)
; O cinema no século, de Paulo Emílio Salles Gomes (Companhia das Letras)
; Fouché, de Stefen Zweig, (Zahar)
; Ensaios de arte, de Mario Pedrosa (Cosac Naify)
; Ensaios de arquitetura, de Mario Pedrosa (Cosac Naify)
; Tempo espanhol %2b Siciliana, de Murilo Mendes (Cosac Naify)
; As metamorfoses, de Murilo Mendes (Cosac Naify)
; Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, com ilustrações de Luiz Zerbini (Cosac Naify)
; Arroz de palma, de Francisco Azevedo (Record)
; A república dos sonhos, de Nélida Piñon (Record)
; A invenção de Morel, de Bioy Casares (Biblioteca Azul)
; O sonho dos heróis, de Bioy Casares (Biblioteca Azul)

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