Existem cantoras, atrizes e escritoras que se destacam não apenas pela arte em si, mas também pelo tom político embutido em seus trabalhos e nas próprias trajetórias. A compositora Maysa, lá nos anos 1950, chocou a aristocracia paulistana ao dar as costas para o casamento e ir viver de sua música. Ao longo do último século, vários outros nomes se sobressaíram por trazer os ideias feministas à tona. No Dia Internacional da Mulher, o Correio relembra as histórias de algumas artistas cujas vozes ajudaram a tornar a figura feminina ainda mais forte na historia da sociedade brasileira, marcada pelo conservadorismo.
Pagu, a feminista
Primeira mulher presa no Brasil por razões políticas, a jornalista, poeta e militante Patrícia Galvão, a Pagu, sempre esteve à frente de seu tempo. Nascida em 1910, em uma sociedade moldada por princípios conservadores, Pagu fumou na adolescência, exibia os cabelos curtos, usava roupas transparentes e adorava falar palavrões. Postura inimaginável para a época. Aos 18 anos, aproximou-se do movimento antropofágico e dos modernistas de 1922. Chocou a sociedade ao se casar com Oswald de Andrade, que se separou de Tarsila do Amaral por conta dela. Passa a viver uma vida de militância. Acabou presa 23 vezes. Por meio de livros, teatro e atitude, tornou-se um símbolo do feminismo brasileiro. Nas telas, foi interpretada por Carla Camurati no longa Eternamente Pagu, de 1988.
Inezita, a pioneira
Imagine uma moça de uma aristocrática família paulistana se aventurar pelo tradicionalmente machista universo da música caipira em meados do século passado. Inezita Barroso, que completou 90 anos de vida na semana passada, aceitou o desafio e, de viola em punho, tornou-se uma das mais importantes representantes da música sertaneja de raiz no país. Na estrada desde o começo da década de 1950, a cantora, compositora, folclorista e apresentadora de tevê abriu os caminhos para várias gerações de artistas, de Roberta Miranda a Paula Fernandes. ;Com a marvada pinga é que eu me atrapaio/Eu entro na venda e já dou meu taio/Pego no copo e dali nun saio/Ali memo eu bebo, ali memo eu caio;, cantou Inezita, em uma de suas interpretações mais célebres. A sociedade chocou-se com tamanha ousadia, mas a artista, tinhosa e corajosa, mostrou que bebida era coisa de mulher, sim, e música caipira, também.
A matéria completa está disponível para assinantes. Para assinar, clique aqui.