Ricardo Daehn
postado em 30/03/2015 08:00
Uma casa sempre enriquecida por convivas do porte de Henri Cartier-Bresson e Fernando Morais, além de profissionais dos maiores jornais do mundo, tendo à cabeceira da mesa ninguém menos do que Sebastião Salgado. Desse ambiente criativo, Juliano Ribeiro Salgado, o filho do maior fotógrafo brasileiro, sempre se beneficiou. Mas, no seio familiar, os embates ;em torno de tudo; aconteciam. ;Você cresce, fica adolescente e, de repente, tem dois homens em casa: há dificuldades de se encontrar o espaço certo. Isso foi meio complicado. Passou, piorou: meu pai e eu nos afastamos bastante;, conta o cineasta Juliano, que, ao lado do renomado diretor Wim Wenders, reativou o diálogo com o pai, a ponto de fazer um longa-metragem, O sal da Terra.
A fita acaba de chegar aos cinemas e selou uma trajetória ampla: representante no Oscar ao posto de melhor documentário, levou o César (prêmio máximo francês) e um prêmio especial do júri, no último Festival de Cannes.
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Na produção do longa, Juliano Salgado concluiu que a dramaturgia das viagens do pai, para o filme, pouco rendia. ;Mas, na bagagem, o Tião trazia muitas coisas para ensinar. Pensei que muitas pessoas podiam se beneficiar disso;, observa. A velocidade dos laços estreitados com desconhecidos é uma chave para os resultados diferenciados, num inconformismo à la Glauber Rocha. ;Ele se adapta de um modo muito forte e fotografa relações íntimas de fatos importantes. Tião (como chama o pai) não está ilustrando números, de uma maneira fria. Ele passa meses com as pessoas;, comenta o diretor, que tem no currículo curtas de ficção.
Sem reservas
Na concepção de Juliano Ribeiro Salgado, dirigir um filme era uma ideia muito ruim. Também difícil foi derrubar a barreira do pai, uma pessoa tímida. Agente facilitador foi a entrada de Wim Wenders no projeto. ;Tião aceitou, mas com muito pouca concessão. O Wim encontrou um modo muito forte de aproximação. Ele encontrou o jeito de filmar;, demarca. Na telona, há questões delicadas que envolvem até o decifrar do ;alfabeto emocional; de Rodrigo, o irmão de Juliano que tem síndrome de Down.
Num entrosamento contra a corrente do cinema participativo de Eduardo Coutinho, Wenders desfilou parte da genialidade. Nos sete dias reservados aos comentários de Salgado sobre suas fotografias, cinco câmeras deixaram ele, com todos os ângulos cobertos, no centro do foco. Não funcionou. ;Ele estava consciente demais das filmagens. Então, a gente isolou ele, com cortinas pretas e no fundo de um painel havia a projeção das fotografias dele, lá estava a câmera. O Wim deu esse dispositivo cinematográfico muito poderoso: Tião não estava se integrando à câmera, mas às próprias memórias dele;, explica.
A difícil tarefa de ;compartilhar sensibilidades;, entre os codiretores, foi aprendida para o benefício de ambos, ao longo de dois meses, na edição, depois de dois anos de colaboração. ;O filme foi escrito para existir junto ; mas houve muitos embates e brigas;, sublinha.
Superexposto, Sebastião Salgado deve ter tido lá seu veredicto em torno de O sal da Terra? ;No Rio, numa exibição, ele teve reação muito emocional, pela experiência de ver meu avô na tela. A reação deles ; do meu pai e da minha mãe ; ao filme é muito diferente daquela de qualquer espectador: é a história deles que está lá. Fiquei com medo que o ego dele ficasse muito grande, e se tornasse insuportável lidar com ele em casa. Era o perigo;, diverte-se Juliano Ribeiro Salgado.
Entrevista com Juliano Salgado sobre o filme Sal da Terra
Na concepção de Juliano Ribeiro Salgado, dirigir um filme era uma ideia muito ruim. Também difícil foi derrubar a barreira do pai, uma pessoa tímida. Agente facilitador foi a entrada de Wim Wenders no projeto. "Tião aceitou, mas com muito pouca concessão. O Wim encontrou um modo muito forte de aproximação. Ele encontrou o jeito de filmar", demarca. Na telona, há questões delicadas que envolvem até o decifrar do "alfabeto emocional" de Rodrigo, o irmão de Juliano que tem síndrome de Down.
Num entrosamento contra a corrente do cinema participativo de Eduardo Coutinho, Wenders desfilou parte da genialidade. Nos sete dias reservados aos comentários de Salgado sobre suas fotografias, cinco câmeras deixaram ele, com todos os ângulos cobertos, no centro do foco. Não funcionou. "Ele estava consciente demais das filmagens. Então, a gente isolou ele, com cortinas pretas e no fundo de um painel havia a projeção das fotografias dele, lá estava a câmera. O Wim deu esse dispositivo cinematográfico muito poderoso: Tião não estava se integrando à câmera, mas às próprias memórias dele", explica.
A difícil tarefa de "compartilhar sensibilidades", entre os codiretores, foi aprendida para o benefício de ambos, ao longo de dois meses, na edição, depois de dois anos de colaboração. "O filme foi escrito para existir junto ; mas houve muitos embates e brigas", sublinha.
Superexposto, Sebastião Salgado deve ter tido lá seu veredicto em torno de O sal da Terra? "No Rio, numa exibição, ele teve reação muito emocional, pela experiência de ver meu avô na tela. A reação deles ; do meu pai e da minha mãe ; ao filme é muito diferente daquela de qualquer espectador: é a história deles que está lá. Fiquei com medo que o ego dele ficasse muito grande, e se tornasse insuportável lidar com ele em casa. Era o perigo", diverte-se Juliano Ribeiro Salgado.
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