postado em 06/04/2015 08:00
A criatividade é o que impulsiona tanto a produção científica quanto a artística, assim como o fascínio pelos mistérios da natureza e da própria existência. Para alguns cientistas, a conexão entre esses dois campos é mais direta. Livres das amarras metodológicas que muitas vezes enclausuram o conhecimento, eles buscam na literatura outra plataforma para a difusão do saber. É o caso da norte-americana Lisa Genova, neurocientista formada em Harvard e também autora de Para sempre Alice. O best-seller inspirou o filme homônimo, em cartaz na cidade, que rendeu, neste ano, a Julianne Moore o primeiro Oscar.Quando escreveu o livro em 2004, Genova foi motivada pela convivência com a avó, diagnosticada com o mal de Alzheimer. Para entender melhor o processo degenerativo, a cientista começou a pesquisar sobre a enfermidade, mas constatou que, embora o material disponível a fascinasse, o conteúdo tinha um tom técnico, inacessível ao leitor leigo.
[SAIBAMAIS];Como cientistas, nós gostamos de contar as histórias das patologias do começo. Por exemplo, que eventos moleculares falham para desencadear a série de eventos que leva a algo que se manifesta como doença? Eu achei que também era interessante pensar em termos de como essas falhas se manifestam no começo. Qual é o aspecto do Alzheimer na fase inicial da doença?;, observa Genova, em entrevista ao site Alzforum, comunidade dedicada à divulgação de conhecimento sobre Alzheimer.
Para isso, ela centra-se na história ficcional de Alice, uma produtiva professora de Harvard que, aos 50 anos, é confrontada com o diagnóstico de Alzheimer precoce. Os complicados processos neurológicos que ;estrangulam; os neurônios da acadêmica são traduzidos em situações do cotidiano, como o esquecimento de uma palavra em meio a uma palestra ou a repentina desorientação diante de um caminho familiar. A tragédia de uma pesquisadora em linguística que pouco a pouco perde sua capacidade de comunicação gera empatia, ao mesmo tempo que informa ao leitor sobre uma doença temida, porém pouco compreendida.
Cosmos mais próximo
Além do campo da neurociência, a literatura serve para dar forma a conhecimentos abstratos da física, da matemática, da astronomia e de outras áreas. O físico brasileiro Marcelo Gleiser, professor na Universidade de Dartmouth, nos Estados Unidos, resolveu se arriscar em um tipo diferente de pesquisa para escrever o romance histórico A harmonia do mundo, inspirado na vida do astrônomo Johannes Kepler (1571-1630) e sua relação com o mentor Michael Maestlin (1550-1631).
Duas perguntas para Marcelo Gleiser
Em A harmonia do mundo, você reúne conhecimento histórico e biográfico, assuntos do universo da física e da astronomia e criação ficcional. Como equilibrar esses elementos na narrativa?
Com muito cuidado. O perigo é exagerar na parte didática, transformando o texto em uma não-ficção romanceada. Não foi essa minha intenção. Queria escrever um romance de fato, onde o personagem vive experiências de vida e não só descobre coisas sobre o universo. Tentei recriar Kepler antes como uma pessoa, depois um cientista. O mesmo com Maestlin, seu mentor.
Como envolver o leitor com o universo científico por meio da literatura sem cair no didatismo?
Esse é o desafio, certo? Criar uma história cativante e instigante a ponto de o leitor nem perceber que, ao lê-la, está embarcando numa viagem de aprendizado onde explora o mundo com os olhos e a mente de uma pessoa que viveu há mais de 300 anos. Meu objetivo foi criar tanto uma história que atraísse a atenção das pessoas, quanto uma narrativa que descrevesse o mundo em que esses grandes cientistas viveram, suas enormes dificuldades, seus embates com a religião e a censura
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