postado em 10/04/2015 08:00
Com temas que tangem a cultura norte-americana, o sexo e a sensualidade, a identidade e a raça, o artista conceitual Glenn Ligon tem se destacado pela diversidade de temas e multiplicidade de meios e plataformas para criação de conceitos de suas obras. A intertextualidade de linguagens, como literatura, artes visuais, transições histórias e motivação autobiográfica, são o cerne das criações do artista.
Glenn é negro, homossexual e nasceu em um bairro considerado como periferia da gigante Nova York, o Bronx. Aos sete anos, os pais de Glenn conseguiram para ele e para o irmão bolsas de estudos em uma escola de alto padrão na cidade, a Walden School. Famosa por oferecer um ensino progressista e por ser frequentada por crianças de famílias de intelectuais, Glenn formou-se ali e partiu para o estudo em artes na Wesleyan University, no estado de Connecticut, da qual saiu com o bacharelado na graduação.
Com a alcunha de ;artista favorito; de Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, o nova-iorquino de 55 anos acumula premiações ao redor do mundo e expõe suas peças nos mais relevantes museus e galerias de arte contemporânea, sendo uma de suas obras parte do acervo da Casa Branca (Black Like Me N;2). Certo dia, quando Glenn se preparava para jantar em um restaurante com um amigo, uma mulher o abordou e perguntou se ele teria um minuto para conhecer o presidente. Obama e Glenn se encontraram, o chefe da equipe do presidente os apresentou e disse que aquela obra fazia parte do acervo pessoal de Obama.
A temática das obras de Glenn Ligon abordam temas diversos, assim como se utilizam de diversos meios e suportes para manifestar as intenções do artista e interação com os observadores. Resgate de fotos de integrantes do movimento Panteras Negras, vídeos de homens negros lutando e, ao mesmo tempo, realizando uma espécie de dança "estranhamente" romântica, letreiros em neon desligadas de uma fonte de luz: o que parece mover a arte de Ligon é a subversão.
Glenn viajará para a Inglaterra com praticamente um museu pessoal, com uma coletânea de mais de 40 peças de diferente artistas cujas temáticas contemplam o pós-guerra e que o influenciaram de alguma forma. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o artista disse: "Você pode ser visível e invisível ao mesmo tempo. Mesmo com 1 milhão de câmeras, não existe nada como evidência - para certo grupo de cidadãos. É um sinal de esperança que um presidente negro tenha trazido essas questões à tona. Mas ao mesmo tempo que avançamos, retrocedemos. Acontecimentos como Ferguson e Eric Garner nos mostram que existe uma distribuição desigual de protagonismo na América. No show de Nottingham, quando as pessoas olharem para o América em neon sem nenhuma luz brilhando, elas vão perceber".