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Os muros das cidades, que antes apenas dividiam e sustentavam prédios, há algum tempo se tornaram espaço de manifestação para artistas. Mas essas obras nas ruas expõem muito mais do que apenas personagens e grafites. Na maioria dos casos, elas transmitem uma mensagem. Dois artistas plásticos começaram a dedicar seus trabalhos nas ruas para trazer à tona a questão LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). São eles: o brasileiro Rafael Suriani e a francesa Kashink.
Nascido em São Paulo, Rafael Suriani se mudou para Paris há oito anos. Desde 2008, o artista plástico começou a ter visibilidade ao fazer pinturas e colagens nas ruas da cidade francesa. A repercussão mundial veio no ano passado, quando começou a se dedicar à criação de obras que retratassem drags queens. ;Sempre fui fascinado pelo universo das drag queens. Em 2013 em Paris, participei de um projeto da associação ACT-UP, que reuniu artistas locais em prol das causas LGBT. Nesse mesmo momento, projetos de leis que garantiam a igualdade de direitos para casais do mesmo sexo estavam sendo tratados na esfera política e grupos conservadores queriam impedir o avanço das leis. Senti a necessidade de expressar a beleza da diferença, a aceitação e a liberdade de expressão;, conta o artista em entrevista ao Correio.
[SAIBAMAIS]Em abril de 2014, Suriani criou o próprio projeto e desenhou drags queens nos muros parisienses. Por lá, o artista encontrou uma certa resistência. ;A cena drag queen é muito reduzida em Paris, acho que o público francês não sacou muito bem o conteúdo do trabalho nas ruas;, lembra. Mas, se suas obras não obtiveram sucesso na França, o resultado foi bem diferente no restante do mundo.
Os públicos norte-americano e brasileiro conheceram o trabalho por meio da internet. A visibilidade se apoiou muito no estilista Jean-Paul Gaultier, que publicou uma das colagens que retratava a drag queen Conchita Wurst, nas redes sociais. ;Tenho buscado com essa série dar visibilidade às questões de gênero e a diversidade sexual. Esse é o primeiro passo para combater os preconceitos;, defende.
Duas perguntas // Rafael Suriani
Quais são os principais debates que você gostaria e levantar com suas obras?
O universo drag é muito variado, mas traz em si, questionamentos de gênero e comportamento. Ao se vestirem de mulher, esses homens transgridem os códigos aceitos pela sociedade, que são muito rígidos. Homem tem que falar grosso, gostar de carro, de futebol, pagar as contas, se vestir assim, se comportar assado... Mulher tem que ser feminina, prendada, discreta, cuidar da casa, dos filhos, etc... Homossexuais devem se comportar como heterossexuais para serem aceitos. Todas essas regras sociais acabam gerando sofrimento para muita gente e devem ser discutidas para que, aos poucos, as mentalidades evoluam e as pessoas possam viver de forma mais espontânea, sendo respeitadas pelo que sãoo, sem buscar se adaptar aos moldes pré-existentes. Acho que o objetivo principal é questionar esses moldes.
Você esperava que seu trabalho fosse ter a repercussão que teve?
As questões de gênero e diversidade estão sendo discutidas na esfera política em vários países. Desde que comecei essa série, houve uma repercussão surpreendente nos Estados Unidos, por meio da internet. Em Paris, graças ao estilista Jean-Paul Gaultier, que publicou uma de minhas colagens que retratava a drag queen Conchita Wurst vestida por ele, essa série obteve certa visibilidade. Mas foi em São Paulo que tudo tomou uma dimensão maior. A cultura drag está com tudo em SP e as pessoas têm se interessado bastante pelo assunto. Espero que tudo isso contribua para a evolução dos costumes e faça parte de uma nova revolução de comportamento, como a que vivemos no fim dos anos 1960, período em que grandes avanços foram feitos como o questionamento da estrutura familiar, a emancipação das mulheres... Fico muito contente com essa repercussão e espero que meu trabalho contribua de alguma forma.
Duas perguntas // Kashink
Quais são seus próximos projetos?
Tenho viajado muito nos últimos anos e mostrado meus trabalhos em galerias. Sou muito sortuda, mas tudo isso é resultado de muito trabalho. Também faço workshops para crianças e adolescentes, com o objetivo de encorajá-los a serem criativos. Esse ano comecei um novo projeto sobre o carnaval e suas tradições pelo mundo. Irei ao Marocos e também para Nova York, Chicago e Detroit. Ainda trabalho com uma campanha nacional ;Meu corpo, minhas regras; que celebra a diversidade humana.
Para você, qual é a importância da arte urbana discutir questões LGBTs?
Acho que é importante mostrar diversidade de modo geral e também gosto da ideia de ser ativista sobre isso. Arte urbana tem tido mais atenção nos últimos anos e eu tive a oportunidade de compartilhar minhas ideias e quero falar sobre as coisas que são importantes para mim, como igualdade de gêneros. Acho que isso faz parte do trabalho trazer ideias e quebrar regras.
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