Diversão e Arte

Na véspera do Dia do Sertanejo, Correio discute as mudanças do gênero

Desde o surgimento, o estilo musical brasileiro passou por transformações

Adriana Izel
postado em 02/05/2015 08:00

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Em meados dos anos 1960, representantes da música caipira resolveram criar um data especial para celebrar os cantores sertanejos. Nascia assim, o Dia do Sertanejo, comemorado em todo o país em 3 de maio. Desde a criação da data, o ritmo passou por diversas mudanças. Se no início, o sertanejo era caipira e representava o campo, nos anos seguintes, ele foi para a cidade, se urbanizou, mudou sua temática até virar romântico e depois se transformar em ;universitário;.

As rápidas mudanças criaram dúvidas em relação ao gênero: afinal de contas, o que é sertanejo? É a música feita pela dupla caipira que toca na viola os sentimentos rurais? Ou a canção que fala sobre amor, abusa dos instrumentos elétricos e sofre interferência de outros estilos? A resposta pode ser mais simples do que parece: todos são sertanejos, mas que se desenvolveram de forma diferente.

[SAIBAMAIS];O movimento se dividiu. Eles são primos e não irmãos. Um ficou no campo, enquanto o outro migrou para a cidade. Tem essa divisão mesmo. É como se eles falassem línguas diferentes, apesar de terem uma origem comum;, explica Edvan Antunes, pesquisador de cultura popular e autor do livro De caipira a universitário ; A história da música sertaneja.

Para o pesquisador e crítico musical Ricardo Cravo Albin, o grande problema em relação as diferentes vertentes da música sertaneja está no preconceito tradicional. ;As grandes cidades tendem a desprezar. É uma hábito sociocultural que não tem a menor procedência, porque a música sertaneja tem um valor extraordinário de representar o pilar da nacionalidade e as raízes brasileiras;, defende. Sobre o contestado sertanejo universitário, Albin diz que o subgênero é uma sofisticação e, mesmo sendo às vezes questionado, foi responsável pela abertura do estilo para um público maior.

Convidados pelo Correio, artistas do gênero respondem perguntas sobre o estilo
Zé Mulato & Cassiano, Renato Teixeira, Fernando & Sorocaba e Lucas Lucco: os artistas representam do caipira ao sertanejo universitário

Vocês acham que o estilo tem o que comemorar no Dia do Sertanejo?
Zé Mulato (Zé Mulato & Cassiano): Olha, o sertanejo de verdade sim, porque é bom dizer que não está existindo muito sertanejo de raiz. Mas, de toda maneira, seja o sertanejo mesmo ou esse ;sertanejinho;, que eu particularmente não levo muito a sério, merece comemorar. Até porque leva cultura e alegria para o povo e é isso que importa.
Renato Teixeira: Não só para comemorar, como devia ser feriado nacional (risos). A crítica em relação ao conteúdo existe, mas não é o mais importante. É uma realidade latente de que o sertanejo domina 70% do mercado. É uma música bastante brasileira e com uma história muito rica, basta lembrar de nomes como Almir Sater, Sérgio Reis e Victor & Leo, por exemplo.
Fernando (Fernando & Sorocaba): Tem inúmeros motivos para comemorar. A música sertaneja faz parte do país e está em constante crescimento. Tenho muito orgulho de fazer parte da música sertaneja.
Lucas Lucco: A música sertaneja tem inúmeros motivos para comemorar. A história da música sertaneja está ligada a história do Brasil, é isso é muito positivo.

Como vocês vêem o mercado da música sertaneja hoje no Brasil?
Zé Mulato (Zé Mulato & Cassiano): O sertanejo moderno é vendável, tem tido um ótimo comércio e existe muita gente ganhando dinheiro com ele. Então, acho que isso é positivo, ele traz felicidade para o público. O caipira é algo mais mirabolante, mas está muito firme. O nosso público nunca arredou o pé.
Renato Teixeira: Continua bem e muito generoso, quem está no topo é porque é bom. As duplas mais conhecidas permanecem por aí e tem uma nova geração trazendo algumas novidades, como a incorporação da música folk. No meu trabalho também faço isso, com uma pegada MPB. É uma referência muito forte, não tem como negar. A história do sertanejo já está escrita e vai estar sempre presente.
Fernando (Fernando & Sorocaba): Essa nova geração da música sertaneja se aproximou das baladas e das grandes cidades. O sertanejo sempre terá sua raiz no campo, nas áreas rurais, pois é onde ele nasceu, mas ultrapassar essa barreira e chegar na ;cidade grande; é uma conquista muito importante. Acredito que, atualmente, a linguagem mudou um pouco (está com um papo mais jovem e mais descontraído), porém o amor ainda continua sendo um tema unânime dentro da música sertaneja.
Lucas Lucco: A música sertaneja está consolidada e o futuro, que eu vejo, é a mistura de ritmos. Tem espaço para duplas, trios e cantores solos. O importante é fazer música e melhorar sempre para os fãs.

Existe alguma rixa entre os caipiras e os representantes do sertanejo universitário?
Zé Mulato (Zé Mulato & Cassiano): Não, não. Somos todos muito bem aceitos e respeitados. Nos damos todos muito bem.
Renato Teixeira: Existe essa divisão mercadológica, antigamente era tudo música caipira. Há um vácuo de comunicação entre a história do país e o povo. Não acho que existe uma competição, pelo contrário, percebo que está todo mundo junto e unido. Cada um conhece o trabalho do outro e respeita. Assim como é no samba, tem essa fraternidade musical.
Sorocaba (Fernando & Sorocaba): De maneira alguma, a música sertaneja é unida e as gerações se respeitam.
Lucas Lucco: De maneira alguma, os músicos mais antigos acolheram de braços abertos essa nova geração da música sertaneja.


Desde o surgimento, o estilo musical brasileiro passou por transformaçõesPara ler
De caipira a universitário - A história do sucesso da música sertaneja.
De Edvan Antunes. Editora Matrix.

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