Diversão e Arte

'7 de outubro' e 'Últimas conversas' desvendam o cineasta Eduardo Coutinho

Nos novos longas, o diretor mostra a intimidade doméstica e os problemas mentais do filho

Ricardo Daehn
postado em 11/05/2015 09:17

Existe um mantra doloroso no último filme de Eduardo Coutinho, repetido à exaustão pelo cineasta: ;Homem que morreu, a gente chama de Deus;. Simples, Coutinho sempre quis ser o avesso do homem adulado e profissional celebrado. No filme Últimas conversas, finalizado pelo amigo João Moreira Salles, o diretor, morto no ano passado, está em condição incomum: se revela bastante. Zela, contudo, pela intimidade doméstica e pelos problemas mentais do filho.

Conhecedor profundo do ofício de diretor, já no longa sobre ele, Eduardo Coutinho, 7 de outubro, ele não oferece resistência ao colega Carlos Nader, à frente do filme recentemente lançado em DVD. Octogenário, o documentarista entrega dores e alegrias de quilate similar aos que sempre extraiu de desconhecidos. ;Eu (entrevistador) tenho que estar vazio para que ele (o entrevistado) possa me contar;, revela, em cena, entre outras técnicas. O interesse pelo outro sempre foi a base de seu trabalho.

[SAIBAMAIS]Não deixa de ser um testemunho valioso e definitivo, por mais que Coutinho relutasse, alegando até ódio direcionado à palavra ;profundo;, em temas que lhe digam respeito direto. ;Espero que as coisas ditas sejam bem superficiais. Eu gosto do lixo;, chega a provocar, em 7 de outubro. Curiosamente, no derradeiro longa que dirigiu (Últimas conversas), o mestre desautoriza os jovens que entrevista, contaminados pelo cinismo e por dose de agressividade. Nisso, fica mais do que divertido contrapor reações do desbocado Coutinho de 7 de outubro que esbraveja: ;Que se f... o mundo, porra!”

Simpático e engraçado, o cineasta, morto em condições trágicas, desafia o endeusamento e as circunstâncias pudicas, em 7 de outubro. É na oralidade e no que seja informal que pesa ;a verdade das filmagens;, desde sempre reclamada por Coutinho. No documentário de Carlos Nader, Coutinho enaltece o fator extraordinário da fala humana e, mais ainda, professa deslumbre ;pelo corpo que fala;. Agitado, com falta de foco e profusão de contrariedades, nas primeiras imagens de Últimas conversas (que deve ser lançado nesta quinta-feira na capital), o diretor salta na tela encadeando um discurso no qual declara a perda da alegria. ;É o fim;, diz o emblemático diretor. Distanciado de artifícios dramáticos, em 7 de outubro (feito ainda em 2013), Coutinho coroava a simbiose dele com o cinema como ;um meio de estar vivo;.

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