Diversão e Arte

Rapper Rico Dalasam se torna fenômeno ao cantar sobre aceitação

Primeiro artista brasileiro do gênero a se assumir homossexual se apresenta na cidade esta semana

Adriana Izel
postado em 12/05/2015 08:02

Desde a adolescência, Rico Dalasam nunca passou despercebido. Ele chamava a atenção fazendo rap nas batalhas de MCs da Santa Cruz, em São Paulo, ao lado de nomes como Emicida e Projota, e pelo visual espalhafatoso ao estilo do norte-americano Prince. Não teria como ser diferente quando o paulista decidiu se lançar profissionalmente como rapper. Adotou a alcunha Dalasam e começou a fazer música de um novo jeito, com letras voltadas para a aceitação pessoal e o amor, além de ter uma sonoridade mesclada com diversos gêneros, incluindo funk, samba, baião, R e música eletrônica.

Já não bastasse o diferencial na música que faz, o cantor admitiu publicamente ser homossexual e se tornou o primeiro rapper assumidamente gay no Brasil. ;Sei que na cultura brasileira e norte-americana é uma grande quebra de norma, barreira e ruptura existir um homossexual que faz rap;, conta Dalasam em entrevista ao Correio.

Você se tornou o primeiro nome do queer rap no Brasil. O que é de fato esse termo?
Na verdade, queer rap não é um gênero. É o gay que faz rap, essa é a definição na cultura norte-americana e aqui é do mesmo jeito. Sou um gay que faz rap e, obviamente, minha orientação sexual influencia nas minhas composições e no meu modo de ver a vida. Mas não é uma música direcionada para esse público, nem uma bandeira, nem era minha intenção. Quero fazer música como qualquer músico. Sei que na cultura brasileira e norte-americana é uma grande quebra de barreira um homossexual que faz rap.

Seu som se diferencia dentro do rap por não falar das mazelas sociais, mas sim de aceitação e de amor. O que você quer passar em suas letras?
Nesse meu primeiro EP Modo diverso, fica muito claro como eu amo, como eu enxergo as gerações e como isso é bom para mim. Poder entender tudo isso é algo que me faz bem. Com essas músicas, eu queria deixar bem claro que ;eu sou o Rico Dalasam, acredito no formato de família e nas relações de amor;. Para mim, essa é a função do meu trabalho e dessas primeiras músicas.

[SAIBAMAIS]Você divulga suas músicas primeiro na internet. Como esse meio tem auxiliado a propagar seu trabalho?
A internet é um espaço imprevisível, em que as pessoas acabam trabalhando espontaneamente. Coloco várias coisas minhas na internet e divulgo nas redes sociais. Mas, no fim, é a galera que faz esse trabalho de divulgação. É por meio dos compartilhamentos que mais gente conhece meu trabalho. Só que também vou fazer uma versão física do EP Modo diverso. Acho que no show de Brasília ainda não estará pronto. Mas fiz porque acho que é um cartão de visita.

Faixas comentadas

Não posso esperar
A canção tem clara inspiração na música pop internacional, além de misturar batidas do funk carioca. A letra se destaca por mostrar o que Rico Dalasam diz querer identificar na carreira: falar sobre amor. ;Não posso esperar mais 10, 15 anos para dizer como amo;, diz trecho da faixa.

Deixa
Mais uma música romântica do EP Modo diverso. Apesar da entrada ter um som em piano, é a canção com a sonoridade mais rap do álbum. Há citações de referências da atualidade como no trecho ;você me olhou quando Marvin cantou Let;s get it on/ mas no fundo do seu olhar eu só via funk do Lon;.

Aceite-C
O primeiro single do EP a fazer sucesso começa com um sample de O mais belo dos belos, sucesso na voz de Daniela Mercury. É a faixa que mais fala sobre aceitação e em assumir a pessoa que se é: ;Eu, outro não dá para ser/ sem crise, sem chance, que a vida é uma/ Eu, outro não dá para ser/ sem crise, sem chance, uma dica/ Aceite-se, aceite-se, aceite-se;.

Riquíssima
O som do berimbau da capoeira aparece na entrada da canção. Essa é a música que Dalasam faz referência as gírias e expressões do mundo gay e usa um pouco da chamada ;ostentação;. ;Não entro nessas filas,/ sou fina; e ;Eis aqui um negrinho cheio de querer/ trocando Campos Elísio por champs e creme para não envelhecer; são alguns dos exemplos.

Deise
A aceitação está de volta, dessa vez, por meio de uma mensagem a uma personagem específica. ;Deise enxugue a lágrima/ hoje é dia de vencer/ Deise cada sol que nascia/ é para tu não esquecer que/ a luz que você precisa está dentro de você;.

Reflex
É a canção bônus do EP e tem uma coisa meio Filtro solar, de Pedro Bial, uma pitada de auto-ajuda com rap. ;Há tempos eu venho pensando/ que eu poderia ser a voz de várias pessoas/ porque minha história é muito complexa/ [...] se ao menos quiser o respeito das pessoas/ é necessário que você se faça entender;.

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