A estada no Brasil foi um período triste na vida do argentino León Ferrari. Um dos nomes mais expressivos das artes visuais da Argentina, o artista desembarcou em São Paulo em 1976. Fugia da ditadura no país natal, regime que levou seu filho e o ânimo para trabalhar. Instalado em um ateliê na Vila Madalena e em contato com os artistas locais, Ferrari praticamente abandonou a escultura e mergulhou em novas experiências. Até 1983, quando voltou definitivamente para a Argentina, produziu uma série de obras sobre papel que acabaram integrando o acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP). Desse conjunto, vêm as obras de León Ferrari ; Resistências e transgressões, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Pintor, gravurista, escultor e até escritor, Ferrari foi, sobretudo, um contestador. Uma das vozes mais críticas da arte argentina, não hesitava em levantar voz e pincel contra a alienação da sociedade contemporânea e pela liberdade. Política e religião estavam à frente na lista dos alvos de provocações, assim como a cultura de massa.
Três séries de colagens e fotocópias dispostas em vitrines na exposição atestam a postura de Ferrari. Em Paraherejes, cenas bíblicas aparecem misturadas a reproduções do Kama Sutra. O profano e o sagrado convivem e um serve de comentário ao outro. A única pintura da exposição traz um enorme Cristo crucificado observado por um abutre que aguarda o momento de avançar. A composição lembra uma das obras mais emblemáticas de Ferrari, a escultura de uma avião com o Cristo crucificado nas asas, integrante do acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA).
Nas paredes, uma série de desenhos que o artista, morto em 2013, gostava de chamar de ;arquiteturas da loucura;. Com heliografias sobre papel vegetal, ele compôs verdadeiros labirintos que levam a lugar nenhum. Pequeninas figuras caminham em uma direção sem fim nem começo em desenhos como Passarela, Tabuleiro e Autopista ao sur. Apenas uma escultura ; Lembranças de meu pai ; integra a mostra. Um emaranhado de fios de aço formam a obra. Filho de um arquiteto, o artista chegou a começar os estudos de engenharia para ajudar o pai a confeccionar as plantas. Ironicamente, construir igrejas era uma das especialidades paternas. Mas Ferrari logo desistiu da profissão e seguiu para a Europa.
[SAIBAMAIS]Organizada pela Embaixada da Argentina, a exposição traz a Brasília um acervo precioso. Dois meses após a morte do artista em julho de 2013, o MAC/USP organizou uma homenagem e expôs parte do acervo. ;Então entramos em contato com o diretor do museu para trazer essa coleção e continuar essa homenagem aqui;, explica Luis Kreckler, embaixador da Argentina no Brasil. ;Nosso interesse é mostrar aos brasilienses ;os filhos; brasileiros do mestre argentino. As obras do MAC expostas aqui são doações que o artista fez para essa instituição quando ele ainda estava vivo, exceto a escultura de aço Lembranças de meu pai, que o próprio museu comprou diretamente dele.;
Serviço
León ferrari ; resistências e transgressões
Visitação até 13 de julho, de quarta a segunda, das 9h
às 21h, na Galeria 2 do Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB-SCES Trecho 2)