postado em 14/05/2015 08:07
Era 1973 e o regime militar monitorava os artistas brasileiros bem de perto. Sobretudo os que, de alguma forma, transformavam a arte em arma contra o sistema. O cantor e compositor Jards Macalé era um deles. O carioca passava por um momento difícil. Havia rompido com a gravadora, estava sem dinheiro e teve a ideia de fazer um show beneficente, em voga naquela época. O beneficiário, contudo, seria ele mesmo.
;Procurei realizar, de forma humorada e profundamente séria, um show de autobenefício, como denúncia da situação de um artista no Brasil;, conta Macalé ao Correio. A ideia ficou mais séria quando foi proposto que, ao espetáculo, incorporar trechos da Declaração Universal dos Direitos humanos, cujo 25; aniversário era comemorado naquele momento. Com a adesão de alguns dos principais nomes da época, como Chico Buarque, Milton Nascimento, Dominguinhos, Edu Lobo, Gonzaguinha e Paulinho da Viola, foi gravado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) o show Direitos Humanos no Banquete dos Mendigos.
As gravações daquele 10 de dezembro de 1973 saem em CD pela primeira vez agora. O áudio foi capturado clandestinamente por um técnico e Macalé teve problemas com seu lançamento nos 1970. O projeto foi proibido, e só apareceu em LP no ano de 1979. Além do caráter profundamente político, o valor do projeto repousa na constelação de músico reunidos e no panorama de uma das melhores safras de música do cancioneiro brasileiro.
Detalhe: a maior parte do repertório selecionado havia sido proibida pela ditadura. Macalé deu de ombros. ;Como estávamos sob bandeira da ONU, ignoramos a censura e apresentamos não só os tópicos censurados, mas também músicas que não constavam no roteiro;, lembra o compositor.
Malditos
Cada artista cantou alguns sucessos de suas carreiras, enquanto os capítulos da Declaração dos Diretos Humanos eram recitados nos intervalos das apresentações. Entre os convidados, estavam Raul Seixas, Jorge Mautner e Luiz Melodia, nomes considerados malditos e que deram ao espetáculo um caráter ainda mais contestatório. ;Não os convidei simplesmente por serem ;malditos;. Procurei abrir um leque das várias manifestações de música brasileira que estavam afinados à resistência ao regime militar;, explica Macalé. O projeto autobeneficiente acabou sendo um marco no combate da luta artística contra o regime militar.
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