José Carlos Vieira
postado em 17/05/2015 07:58
Como um balaio de compras da feira de Campina Grande, uma conversa com Xico Sá tem de tudo um pouco. Gente boa e cheio de humor, durante uma hora de bate-papo e muitas risadas (só faltaram umas cervejas), Xico não perdeu o ritmo. Lamentou o encaretamento da sociedade, adiantou o tema do romance que está escrevendo ; a história de um goleiro ;, comentou o filme dirigido por Cláudio Assis sobre seu livro Big Jato, ;minhas memórias delirantes;, e lamentou a ;miamização; do litoral brasileiro. O cara não fala fuleiragem. Confira.Ariano Suassuna e Eduardo Galeano foram homenageados há um ano na Bienal do Livro de Brasília, em que você também participou. Os dois representavam uma casta de intelectuais que servia como referência para debates e discussões políticas. Hoje em dia, pensadores contemporâneos como eles estão em falta. Você acha que o mundo ficou careta, reacionário? Estamos perdendo a utopia?
Estamos perdendo sim. Mas não sou muito apocalíptico, acredito que são fases, ciclos mesmo. As ausências de nomes como Ariano e Galeano e tantos outros pensadores pesam. São caras que não têm um pensamento óbvio em relação a qualquer questão, da cultura ao futebol. Eles faziam um corte muito interessante no conservadorismo. Vivemos hoje um caretismo, uma correção extremada. E o traço comum desses dois pensadores é a questão do humanismo.
Estamos num país careta?
Hoje, o pensamento das pessoas é de uma crueldade tremenda. O que se vê nas redes sociais, por exemplo, é a falta de humanismo, de compaixão. Os valores todos estão indo para o buraco. Eles querem mais é pena de morte, redução da maioridade penal; O que tiver na pauta de crueldade tem um eco muito grande hoje na sociedade.
O que você acha dessa miamização do Brasil? O país não deveria investir mais em educação do que favorecer o parcelamento de viagem para o exterior ou na compra de um carro parcelado, o consumismo?
A esquerda deixou uma herança social, como o Bolsa Família etc., importantíssima. Mas em matéria de costumes, de uma pauta maior, é tão conservadora quanto a direita. O Brasil evoluiu em consumo, mas não em questões fundamentais, como educação e cultura. E essa coisa de Miami, dessa estética Miami, é lamentável, basta pegar o litoral do Brasil inteiro, tudo miamizado.
Quando o Brasil deixará de ser o Brasil dos 7 a 1?
Eu não consigo esquecer esse negócio. Na semana do baque, eu até tentava consolar dizendo que a dor não seria igual à de 1950 (quando o Brasil perdeu para o Uruguai em pleno Maracanã), porque hoje o mundo é cheio de novas informações, segmentado demais, ninguém vai guardar isso por muito tempo. Cara, mas vai passando o tempo e a gente não esquece.
Nossa juventude moderninha anda muito uniformizada, a mesma tatuagem, a mesma roupa; Todo mundo faz a mesma coisa do Oiapoque ao Chuí.
Isso não é arriscado? Manadas com celular na mão...
É f., e olha que estamos falando dos malucos, que são mais difíceis de cair nessa sedução fútil. Mas se você transporta isso para a juventude como um todo, eles são muito parecidos até com os europeus. Torço para que nada disso seja para sempre (risos). Xô, padronização.
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