A noite de Brasília passa por um período de ressaca, com a diminuição da oferta de boa música. Poucas são as casas noturnas que ainda oferecem atrativos musicais aos frequentadores. Entre as razões que determinam essa escassez está o rigor da chamada Lei do Silêncio ; impedimento para quem quer levar ao público o som dos instrumentos e a voz dos cantores.
Houve um tempo, entre meados da década de 1970 e o começo dos anos 1990, em que a noite da capital era considerada uma das mais agitadas do país. Foi justamente nessa época que a cidade passou a exportar grandes talentos dos mais variados gêneros musicais. Não por acaso, naquele período, surgiram artistas que vieram a se tornar nomes destacados da MPB: as cantoras Cássia Eller, Zélia Duncan e Rosa Passos, e os instrumentistas Jorge Helder, Lula Galvão e Nelson Faria.
Todos eles tiveram os palcos de bares, restaurantes e boates como ponto de partida para suas vitoriosas carreiras. Como não lembrar do Bom Demais, na 706 Norte, de onde Cássia, depois de cumprir longa temporada entre 1988 e 1989, decolou para a fama e o sucesso. Pelo bar, um point alternativo, passaram, entre outros, Renato Matos, Rubi, Adriano Faquini, e as bandas Raimundos, Little Quail e Oficinas Blues.
[SAIBAMAIS];Recebemos no Bom Demais, também, alguns astros e estrelas da MPB que queriam conhecer o espaço. Caetano Veloso, certa noite, cercado por fãs, distribuiu muitos autógrafos. Gilberto Gil colocou as mãos na calçada da fama. Já Alceu Valença, Elza Soares e Toninho Horta deram canja;, recorda-se Cristina Roberto, ex-proprietária do mítico bar. ;Mas foi a inesquecível Cássia Eller quem tornou o bar famoso, com seus históricos shows, às quintas-feiras, durante um ano;, complementa. ;Hoje em dia, com tantas restrições impostas, em especial as relacionadas à Lei do Silêncio, um bar como o Bom Demais, responsável pelo movimento cultural que faz parte da história da cidade, dificilmente teria condições de funcionar. Vivemos, atualmente, num tempo de muita intolerância.;
Lembranças noturnas
Emílio Santiago, João Bosco e Nana Caymmi foram alguns dos artistas consagrados que deram canja nos shows de Rosa Passos, no Degrus (302 Norte), na primeira metade da década de 1980.
Renato Russo, já ídolo nacional, certa noite fez um pocket show no Bom Demais (706 Norte), cantando Beatles para uma pequena platéia de privilegidos.
Contratada pelo Bar no Bar do Piantella (202 Sul), Zélia Duncan (que então tinha Cristina no composição do nome), teve a carteira de trabalho assinada pelo empresário Marco Aurélio Costa, na primeira metade década de 1980.
Elizeth Cardoso fez seu último show em Brasília na Spettacullus, que funcionava ao lado da churrascaria Sperttus, no Setor Hoteleiro Sul.
Depois de apresentar-se no extinto Gran Circo Lar, o Mano Negra, liderado por Mano Chao, fez um show histórico no Gate;s Pub, em noite de superlotação e com muita gente curtindo do lado de fora do b ar da 403 Sul.
O primeiro show de Adriana Calcanhotto na cidade, lançado seu disco de estreia, foi no Entrecôte, no Centro Comercial Gilberro Salomão.
Luís Carlos Mieli contou histórias da bossa nova e homenageou Elis Regina, em apresentação no Gaff, também no Gilberto Salomão.
Às quartas-feiras, o Bar Academia (308 Norte) promovia uma noite literária, que contou com a participação de, entre outros, Ferreira Gullar e Thiago de Melo.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.