postado em 04/06/2015 08:07
Depois de 20 anos, quando toda a polêmica sobre o manifesto cinematográfico Dogma 95 arrefeceu, de modo que se pode analisar com mais calma sua legitimidade e como influenciou o cenário mundial da sétima arte. Este é o maior objetivo da mostra sobre o movimento, com filmes e debates disponíveis para o público no Centro Cultural Banco do Brasil, a partir de hoje até o dia 15 de junho.
O Dogma surgiu a partir das ideias de Lars Von Trier, Susanne Bier e Thomas Vinterberg, em março de 1995, na Dinamarca. Tinham como proposta filmes mais urgentes e autênticos. Para isso, criaram 10 regras que, basicamente, visavam impedir a produção de ambientes e situações artificiais nos filmes, tais como cenografia, trilhas sonoras e até sobre o enredo, de modo que o Dogma 95 teve como tema principal o seio familiar.
Eis que os cineastas chamaram a atenção de alguns, mas também a polêmica para outros: ;Por que são eles que podem dizer o que torna um filme verdadeiro?;. Críticos desconfiavam do movimento, diziam que era apenas um golpe de marketing dos dinamarqueses. Mesmo assim, eles agitaram o cenário do cinema no Festival de Cannes. Vinterberg, aliás, foi premiado com a Palma de Ouro com o filme Festas de família, em 1998, ao seguir as regras do Dogma.
Cineastas como Vinterberg e Von Trier fazem parte do legado deixado pelo movimento. Além disso, o curador da mostra no CCBB, Júlio Bezerra, afirma que o Dogma 95 influenciou ainda na legitimação do uso da tecnologia digital no cinema dos anos 90 e 2000. ;Nessa virada, o digital ainda era visto com receio por parte das camadas mais estabelecidas, como sinônimo de amadorismo. Quando os lançamentos dos filmes deles aparecem em Cannes, em digital com píxel visível na tela grande, vemos que aquilo teve um impacto considerável. Diversas pessoas ao redor do mundo perceberam que o digital era um caminho viável para fazer filmes artísticos;, analisou.
Bezerra destaca, ainda, que o propósito da mostra, além de fazer um balanço do movimento neste aniversário de 20 anos, é também divulgar filmes menos conhecidos do Dogma, feitos for a do lugar de onde ele surgiu. ;Nos filmes na Dinamarca, em quase todos os filmes tem esse núcleo familiar, com ;esqueletos; saindo do armário, segredos revelados. Mas em filmes de outros países existem outras tramas. O argentino Fuckland é uma comédia sobre as Ilhas Maldivas. Tem também o inglês Hotel, do Mike Figgis, e o francês Lovers, com uma história de amor entre imigrantes em Paris;, comentou o curador.
Dogma 95
A mostra estará em cartaz no CCBB Brasília de 3 a 15 de junho, com uma programação com 16 longas, de mais de 10 diretores de diversas nacionalidades. Também está marcado um debate com os críticos e professores de cinema Filipe Furtado e Fernando Oriente, sob mediação do curador Júlio Bezerra.